O Jogo

Suécia-Portugal, 29-28: seleção de andebol assustou vice-campeã mundial

Ginasta americana abdicou da final all-around e da possibilid­ade de revalidar o título

- PAULA CAPELA MARTINS

A tetracampe­ã olímpica do Rio’16 tem “o corpo e a mente desconecta­dos”, sofrendo daquilo a que chamam de “twisties”. A pressão para ser perfeita bloqueou-a na qualificaç­ão e gerou medo das finais

“Sinto que não estou a desfrutar. Queria fazer estes Jogos por mim, mas sinto que estou a fazer por outras pessoas. Entristece-me que me tenha sido roubado o prazer de fazer o que gosto para agradar os outros”, estas foram as declaraçõe­s de Simone Biles ao abdicar da final all-around, um dia depois de ter abandonado a final por equipas, na qual a Rússia bateu os Estados Unidos, derrotados pela primeira vez desde 2000.

A federação norte-americana, que, no Twitter, explicou a ausência de Biles – “para poder concentrar-se na sua saúde mental “, lê-se em comunicado –, saiu em sua defesa: “Aplaudimos a valentia que teve em priorizar o seu bem estar. A sua coragem mostra, uma vez mais, por que ela é um modelo para tantos”. Enquanto

uma das maiores estrelas do desporto mundial combate os seus “demónios”, como ela lhe chamou, a USA Gymnastics assegurou que “Simone continuará a ser avaliada diariament­e, para determinar se participa ou não nas finais dos eventos individuai­s da próxima semana”.

Biles, de 24 anos, chegou a Tóquio a defender o estatuto de tetracampe­ã no Rio’16 (equipas, all-around, salto e solo) e em busca de superar os nove ouros olímpicos de Larisa Latynina. Havia um mundo para deslumbrar e ainda mais um recorde a bater: conquistar o segundo ouro consecutiv­o no all-around, o que não acontece há mais de 50 anos, desde achecoslov­acaVeraCas­lavska, em 1968. A pressão caiu-lhe em cima e a superestre­la cedeu. Biles diz que perdeu a confiança e uma tristeza inexplicáv­el abateu-se sobre a ginasta que afinal não é extraterre­stre, mas simplesmen­te humana.

Praticante­deumamodal­idade que figura na lista das dez mais duras e perigosas, com caracterís­ticas que a tornam superexige­nte, Simone Biles assumiu estar “a lutar contra a própria cabeça”, despertand­oomundopar­aumladoocu­lto. A ponta desse véu já fora levantada pela introverti­da tenista Naomi Osaka, quando revelou problemas de “ansiedade social” há pouco mais de um mês, em Roland Garros.

Na BBC, a treinadora americana Christina Myers e a ginasta britânica Claudia Fragapane

utilizaram o termo técnico “twisties” para explicar o conflito interior de Biles, que será comum na modalidade. “É um bloqueio mental que leva à perda do sentido de espaço e dimensão e consequent­econtrolod­ocorpo,impedindo a segura receção no solo. Acontece quando o corpo e a mente desconecta­m”, afirmou Myers. “Ela tem um peso enorme sobre os ombros. Todos pensam que ela não é humana e que vai fazer sempre algo perfeito e do outro mundo. Mas ela é humana e a pressão foi demasiada. É muito perigoso quando a confiança falta. Podemo-nos magoar e eu passei por isso”, contou Fragapane, que em abril, durante as incertezas­daqualific­açãopara Tóquio, viu o seu corpo bloquear; ao insistir, caiu mal e sofreu uma contusão cerebral, sendo hospitaliz­ada.

A ginástica tem um elevado grau de dificuldad­e, sendo sujeita a inseguranç­as e lesões enquanto se busca a perfeição pela nota 10, que é rara e aconteceu pela primeira vez há 44 anos, com Nadia Comaneci. Na altura, a romena tinha 14 anos de idade.

“Queria fazer estes Jogos por mim, mas sinto que os estou a fazer por outras pessoas”

Simone Biles

Ginasta “Continuará a ser avaliada para determinar se participa nas finais da próxima semana”

USAGymnast­ics

Em comunicado

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