O Jogo

O exemplo do Carlos Nascimento

- CARLOS FLÓRIDO

Já disse em várias conversas de amigos, com uma ponta de orgulho, que conheço o Carlos Nascimento desde o dia em que o vi, muito novo e de sapatilhas (ainda não tinha uns sapatos de bicos), fazer a primeira corrida oficial de atletismo. Desde então transformo­u-se no melhor sprinter do atletismo português, mas tem um recorde pessoal de 10,13 segundos, nada que se compare aos 9,86s que valeram a Francis Obikwelu uma incrível medalha de prata nos 100 metros dos Jogos de Atenas’2004. Desde esse ano – 2008 ou 2009, já não sei precisar – o Nascimento dedicou uma vida ao atletismo, teve muitas alegrias e várias tristezas e foi até adiando os estudos para tentar realizar um sonho de vida: ser olímpico. Hoje, quando entrar no Estádio Olímpico de Tóquio, vai dar tudo o que tem mesmo sabendo que repetir os seus 10,13s (e não será fácil) poderá não bastar para seguir em frente na prova mais famosa dos Jogos. Ele é um velocista branco de Matosinhos, em desvantage­m genética e de preparação com os negros americanos, sejam dos EUA, da Jamaica ou de qualquer outra ilha, pois em todas elas abundam os sprinters e todos sonham imitar Usain Bolt com a mesma vontade que as crianças portuguesa­s têm de ser o Cristiano Ronaldo. Por isso, ficarei feliz por ver o Nascimento correr no melhor palco do mundo e irei gritar por ele frente ao televisor seja qual for o seu resultado. Se escrevo sobre o Carlos Nascimento, é porque existem vários como ele na Missão portuguesa – e nas delegações de todos os países do mundo –, que já cumpriram a sua obrigação de carreira ao apurarem-se para os Jogos Olímpicos, onde apenas estão os melhores. Nós, os que estamos do lado de cá, temos como obrigação aplaudi-los, ficar orgulhosos por eles e nunca, mas nunca, ter o desplante de criticar resultados a quem deu tanto para nos poder representa­r.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal