LUVAS DE FERRO E UMA LIÇÃO DE SUPERAÇÃO
HERÓICO A jogar com 10 desde os 32’, águias mostraram espírito de sacrifício e grande leitura tática. Houve ainda sorte e um Vlachodimos que se agarrou aos milhões
Lucas Veríssimo quase deitou por terra a estratégia de Jesus, que depois equilibrou a equipa em vários momentos. Objetivo de marcar desvaneceuse, a missão de defender bem merece nota máxima
O Benfica carimbou ontem o passaporte para a fase de grupos da Liga dos Campeões, objetivo primeiro da época que permite um encaixe imediato de 37 milhões de euros, beneficiando de um nulo conquistado à base de um espírito de superação de um grupo de jogadores que contou, de novo, com um guardião com luvas de ferro entre os postes. Vlachodimos salvou as águias em vários momentos, a sorte também deu uma mãozinha, mas a superação e a capacidade tática e estratégica revelaram-se também determinantes na hora de deixar às escuras às intenções do PSV Eindhoven, que procurava anular a derrota, por 2-1, da primeira mão.
Lucas Veríssimo deixou a equipa à beira do precipício logo aos 32’, com uma falta escusada (cotovelo na cara de Gakpo num lance dividido no ar) a resultar no segundo amarelo que obrigou a equipa a jogar em inferioridade numérica mais de uma hora. Esse lance surgiu num momento do jogo em que se via já um PSV amarrado pela estratégia montada por Jorge Jesus e já depois de ter sido o Benfica a cheirar o golo, por Rafa (28’ ), e de Max ter assustado com um tiro à malha lateral (30’ ).
Recuando no tempo, Jorge Jesus manteve o esquema de três centrais (com Morato de início em vez do recuperado Vertonghen), com Gilberto e Grimaldo nas alas. A surpresa chegou com a inclusão de Taarabt, a funcionar como terceiro médio (Pizzi ficou no banco), ficando o ataque entregue à dupla Rafa-Yaremchuk. Com João Mário a fechar bem na direita na proteção ao lateral e Weigl a desmultiplicar-se na ocupação de espaços, o Benfica manteve-se coeso e o PSV, que arrancou a partida a todo o gás, viu-se bloqueado, sobretudo por lhe ter sido fechada a porta do ataque à profundidade nas alas.
A verdade é que o Benfica a jogar com três médios asfixiou o tridente do miolo do PSV e, com isso, deixou os perigosos extremos Gakpo e Madueke sem possibilidade de explorar as costas de Gilberto e Grimaldo, este a fazer um jogo muitos furos acima do que mostrou na Luz, ressentindo-se o dianteiro Zahavi, que jogou mais recuado e longe da baliza. Em posse de bola, a intenção encarnada era clara e passava pela aposta na progressão de Taarabt, para queimar linhas e procurar desequilibrar uma defesa contrária que, pelo balanceamento atacante, poderia dar mais espaços. Aos 28’, o marroquino arrancou e só um carrinho de André Ramalho, já na pequena área, evitou o golo de Rafa.
Com a expulsão, o objetivo de marcar em Eindhoven esfumou-se com a expulsão de Lucas Veríssimo e a missão de defender bem, como havia referido Jorge Jesus na véspera, ganhou preponderância. E o que se viu a seguir foi mesmo isso, uma lição de leitura tática, do técnico das águias e dos seus jogadores, com ajuda decisiva de Vlachodimos, a evitar golos aos 42’, 77’ e 85’ (este em dose dupla). Já tinha salvo na Luz, voltou a fazê-lo em Eindhoven. De caras, o melhor em campo.
Gilberto passou para terceiro central, com Rafa à direita e Yaremchuk sozinho na frente. Depois foi André Almeida a suceder ao brasileiro e também Vertonghen ajudou a erguer um muro à frente da baliza, mantendose Weigl, incansável, a varrer jogo à saída da área. O PSV insistiu, Roger Schmidt carregou homens de ataque e teve o azar, qual Euromilhões para as águias, quando Zahavi, solto na área, atirou à barra (62’), lance que poderia ter desequilibrado a eliminatória, até pelo desgaste físico dos encarnados e por estar a jogar apenas com 10 elementos. Depois do ferro, foi Vlachodimos a salvar (85’), numa fase em que o Benfica só defendia, mas os neerlandeses já tinham esgotado todas as opções para quebrar uma águia que se recusou a ajoelhar antes dos milhões, ao contrário do que sucedeu na época passada com o PAOK.