O Jogo

QUANDO OTÁVIO QUERIA SER O CR7

DO MESMO BERÇO DE RIVALDO À LIGA DOS CAMPEÕES: A SAGA DO NOVO OPERACIONA­L DE FERNANDO SANTOS

- DANIEL LEAL

Barão Xavier, treinador do Santa Cruz durante 16 anos, lembra o talento e a veia goleadora do lusobrasil­eiro, que se juntou ontem pela primeira vez aos trabalhos da equipa das “Quinas”

Para quem acompanha a carreira de Otávio desde os primeiros passos, a consagraçã­o num grande clube da Europa seria uma questão de tempo. Do miúdo magrinho, pequenino e franzino, algo era muito percetível desde cedo: o talento. Treinador brasileiro conhecido por revelar grandes jogadores, Barão Xavier descobriu cedo que o futuro médio do FC Porto, naquela altura ainda com 9 anos, tinha algo de especial. Das primeiras instruções até ao dia da convocatór­ia para representa­r um país distante de casa, muito mudou. Inclusive, o orgulho de Barão, que ficou ainda maior com a inédita chegada do portista à equipa das “Quinas”, com a qual treinou ontem pela primeira vez, ma Cidade do Futebol, em Oeiras. “Nunca imaginei vê-lo na seleção de Portugal. É uma agradável surpresa. Não por falta de talento, mas porque nunca imaginámos. Até a seleção brasileira vemos como muito distante. Mas chegar à seleção portuguesa é excelente. É um país que tem uma equipa muito forte e é sempre uma das favoritas a conquistar títulos, inclusive o próximo Mundial”, afirma a O JOGO Barão Xavier, que foi treinador de futsal durante 16 anos no Santa Cruz. Foi nesse período que detetou um miúdo pequeno e bastante ousado. “Ele [Otávio] jogava na equipa do Cabo Branco, da cidade dele (João Pessoa). Conheci-o como adversário. Já jogava muito; era diferente. Fiz o convite ao pai para vir treinar comigo e consegui trazê-lo. Era muito habilidoso desde sempre”, recorda.

Quando os golos deram lugar às ofertas

Para treinar, às terças e quintas-feiras, e ainda participar­noscampeon­atos,aossábados,Otávioteri­adeatraves­sar os 120 quilómetro­s que separam João Pessoa, a sua cidade natal, até ao Recife, localidade onde está instalada a sede do Santa Cruz. O pai dojogadord­oFCPorto(Otávio Bezerra), porém, não ficou muito convencido com a mudança. “Ele era o goleador da equipa, mas eu precisava de ajustar alguns conceitos. Recuei-o no campo e o pai não gostou. Em vez de pivô, passou a ser o meu ala, às vezes fixo. Queria vê-lo a trabalhar mais a bola, a sair com a bola dominada, a aprender a marcar para deixá-lo mais completo. Ele passou a ser mais o assistente em vez do goleador”, explica, antecipand­o aquilo que se tem visto de Otávio no FC Porto. Só esta época já fez três ofertas...

Embora tenha começado no futsal, o sonho de transitar para o futebol de onze esteve sempre presente. Numa reportagem­à“FolhadePer­nambuco”, de 4 de março de 2007, quando tinha apenas 11 anos, Otávio já surgia como figura de destaque. Na altura, o Santa Cruz foi vice-campeão do Torneio Aarau Master, na Suí

BARÃO XAVIER DESCOBRIU OTÁVIO QUANDO O MÉDIO TINHA 9 ANOS E AOS 11 INDICOU-O AO INTERNACIO­NAL “Com esta oportunida­de que ele vai ter de jogar ao lado do ídolo, o Cristiano Ronaldo. Até vai comer a relva por Portugal”

Barão Xavier

Antigo treinador de Otávio

ça. Foram 12 vitórias e apenas uma derrota (1-0), na final, com o Bayern Leverkusen. Durante o percurso, a principal vitória surgiu frente ao Manchester United (4-1), com um golo do jogador que Fernando Santos decidiu chamar para os próximos três compromiss­os da Seleção Nacional. “Não passa pela cabeça do Otávio ser outra coisa quando crescer que não seja jogador de futebol. Mas em casa, sempre fazemos questão de ressalvar a importânci­a dos estudos”, disse, na altura, o pai, Otávio Bezerra, perante a concordânc­ia do filho. E quando este foi questionad­o sobre os exemplos que queria seguir, o “pequeno” Otávio apontou dois. “Gosto do Kaká e do Cristiano Ronaldo”, atirou. O sonho era atingir a dimensão de Kaká,

melhor do Mundo daquele ano, ou do jovem CR7, na época com 20 anos, que já brilhava no Manchester United. Catorze anos depois, o luso-brasileiro encontra-se lado a lado com o ídolo da infância na seleção de Portugal. “Tenho a certeza de que o Otávio vai brilhar. Com esta oportunida­de que ele vai ter de jogar ao lado do ídolo, o Cristiano Ronaldo, até vai comer a relva porPortuga­l.Temtalento­para isso”, disse José Sebastião Xavier, o “Barão”. “Ele sempre foi muito determinad­o. Não faltava aos treinos. Até porque nunca gostou de perder, nem nas brincadeir­as. Era um menino brincalhão, mas até perder. Isso ele não gostava”, insiste. Uma postura da qual Fernando Santos espera tirar partido a partir de agora.

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