QUANDO OTÁVIO QUERIA SER O CR7
DO MESMO BERÇO DE RIVALDO À LIGA DOS CAMPEÕES: A SAGA DO NOVO OPERACIONAL DE FERNANDO SANTOS
Barão Xavier, treinador do Santa Cruz durante 16 anos, lembra o talento e a veia goleadora do lusobrasileiro, que se juntou ontem pela primeira vez aos trabalhos da equipa das “Quinas”
Para quem acompanha a carreira de Otávio desde os primeiros passos, a consagração num grande clube da Europa seria uma questão de tempo. Do miúdo magrinho, pequenino e franzino, algo era muito percetível desde cedo: o talento. Treinador brasileiro conhecido por revelar grandes jogadores, Barão Xavier descobriu cedo que o futuro médio do FC Porto, naquela altura ainda com 9 anos, tinha algo de especial. Das primeiras instruções até ao dia da convocatória para representar um país distante de casa, muito mudou. Inclusive, o orgulho de Barão, que ficou ainda maior com a inédita chegada do portista à equipa das “Quinas”, com a qual treinou ontem pela primeira vez, ma Cidade do Futebol, em Oeiras. “Nunca imaginei vê-lo na seleção de Portugal. É uma agradável surpresa. Não por falta de talento, mas porque nunca imaginámos. Até a seleção brasileira vemos como muito distante. Mas chegar à seleção portuguesa é excelente. É um país que tem uma equipa muito forte e é sempre uma das favoritas a conquistar títulos, inclusive o próximo Mundial”, afirma a O JOGO Barão Xavier, que foi treinador de futsal durante 16 anos no Santa Cruz. Foi nesse período que detetou um miúdo pequeno e bastante ousado. “Ele [Otávio] jogava na equipa do Cabo Branco, da cidade dele (João Pessoa). Conheci-o como adversário. Já jogava muito; era diferente. Fiz o convite ao pai para vir treinar comigo e consegui trazê-lo. Era muito habilidoso desde sempre”, recorda.
Quando os golos deram lugar às ofertas
Para treinar, às terças e quintas-feiras, e ainda participarnoscampeonatos,aossábados,Otávioteriadeatravessar os 120 quilómetros que separam João Pessoa, a sua cidade natal, até ao Recife, localidade onde está instalada a sede do Santa Cruz. O pai dojogadordoFCPorto(Otávio Bezerra), porém, não ficou muito convencido com a mudança. “Ele era o goleador da equipa, mas eu precisava de ajustar alguns conceitos. Recuei-o no campo e o pai não gostou. Em vez de pivô, passou a ser o meu ala, às vezes fixo. Queria vê-lo a trabalhar mais a bola, a sair com a bola dominada, a aprender a marcar para deixá-lo mais completo. Ele passou a ser mais o assistente em vez do goleador”, explica, antecipando aquilo que se tem visto de Otávio no FC Porto. Só esta época já fez três ofertas...
Embora tenha começado no futsal, o sonho de transitar para o futebol de onze esteve sempre presente. Numa reportagemà“FolhadePernambuco”, de 4 de março de 2007, quando tinha apenas 11 anos, Otávio já surgia como figura de destaque. Na altura, o Santa Cruz foi vice-campeão do Torneio Aarau Master, na Suí
BARÃO XAVIER DESCOBRIU OTÁVIO QUANDO O MÉDIO TINHA 9 ANOS E AOS 11 INDICOU-O AO INTERNACIONAL “Com esta oportunidade que ele vai ter de jogar ao lado do ídolo, o Cristiano Ronaldo. Até vai comer a relva por Portugal”
Barão Xavier
Antigo treinador de Otávio
ça. Foram 12 vitórias e apenas uma derrota (1-0), na final, com o Bayern Leverkusen. Durante o percurso, a principal vitória surgiu frente ao Manchester United (4-1), com um golo do jogador que Fernando Santos decidiu chamar para os próximos três compromissos da Seleção Nacional. “Não passa pela cabeça do Otávio ser outra coisa quando crescer que não seja jogador de futebol. Mas em casa, sempre fazemos questão de ressalvar a importância dos estudos”, disse, na altura, o pai, Otávio Bezerra, perante a concordância do filho. E quando este foi questionado sobre os exemplos que queria seguir, o “pequeno” Otávio apontou dois. “Gosto do Kaká e do Cristiano Ronaldo”, atirou. O sonho era atingir a dimensão de Kaká,
melhor do Mundo daquele ano, ou do jovem CR7, na época com 20 anos, que já brilhava no Manchester United. Catorze anos depois, o luso-brasileiro encontra-se lado a lado com o ídolo da infância na seleção de Portugal. “Tenho a certeza de que o Otávio vai brilhar. Com esta oportunidade que ele vai ter de jogar ao lado do ídolo, o Cristiano Ronaldo, até vai comer a relva porPortugal.Temtalentopara isso”, disse José Sebastião Xavier, o “Barão”. “Ele sempre foi muito determinado. Não faltava aos treinos. Até porque nunca gostou de perder, nem nas brincadeiras. Era um menino brincalhão, mas até perder. Isso ele não gostava”, insiste. Uma postura da qual Fernando Santos espera tirar partido a partir de agora.