As peças que sobram do lego montado
Se é preciso matar Jota para dar a esquerda a Ronaldo, está mal. E se combinar Bruno Fernandes e Bernardo Silva os tornar redundantes, também. A Seleção não deve ser uma constante conta de subtrair
S e Fernando Santos gostou tanto como disse do Portugal-Rep. Irlanda, então a Seleção tem problemas sérios. O Euro’2020 ditou um fim de ciclo, se calhar menos relacionado com gerações de jogadores do que com pequenas mudanças no futebol internacional que obrigam a adaptações. E Ronaldo tem de ser uma ferramenta sem precisar de limitar as qualidades dos colegas que o acompanham. No futebol, baseamos opiniões em dez por cento da informação, mas não consigo fugir ao raciocínio de que, ontem, o desvio despropositado de Cristiano para a esquerda prejudicou aquele que foi o melhor jogador da Seleção na primeira parte. Também concordo com uma das críticas saídas do Europeu, a respeito de André Silva. Algo levou a que Portugal não conseguisse, ou deixasse de conseguir, conciliar os seus dois melhores finalizadores da época 2020/21, ao serviço dos clubes e com a certificação de grandes ligas. Se o motivo esteve relacionado com a dificuldade de mover Ronaldo no tabuleiro, fica difícil saber se o que se ganhou justifica o que se pode ter perdido. Sucede algo parecido com a coincidência de Bernardo Silva e Bruno Fernandes na mesma combinação de meio-campo. Fernando Santos fugiu a utilizá-los assim durante o campeonato da Europa e foi (mal) criticado por isso, mas continuam a ser dois dos valores máximos da Seleção. Importa ao selecionador encontrar uma fórmula em que não sejam redundantes como foram ontem: os únicos automóveis com dois volantes são os da instrução, para quem está a aprender a conduzir, não para quem quer ganhar um grande prémio de Fórmula 1. Santos sempre foi um simplificador inteligente, mas o puzzle complicou-se. Desta vez, lamento, não está a ser bem resolvido.