O Jogo

Do empate com sabor a derrota para a simbiose perfeita

- Jaime Cancella de Abreu

1Após o sorteio, perante um dificílimo grupo (o mais forte no ranking das equipas e o terceiro, praticamen­te igual ao segundo, no valor dos plantéis), vi vários benfiquist­as apresentar­em infalíveis contas de como chegar aos oitavos de final – e nelas se incluíam os seis pontos de duas vitórias sobre o Dínamo de Kiev. Depois de assistir ao jogo de terça-feira, confirmei o quanto a razão lhes assistia: o campeão ucraniano está mais do que ao alcance do Benfica. Findo o jogo, vi-os defender, com a mesma argúcia e convicção, a ideia de que o empate tinha sido um bom resultado. Em que ficamos?

2O Bayern ganhou em Barcelona e cumpriu com a sua parte da tarefa – o Benfica, como vimos, é que não. Lucescu, velha raposa do futebol, ofereceu-nos como isco o campo e a bola, assim nos atraindo para o pior do nosso futebol: aquela espécie de andebol jogado com os pés, que anda por ali a rondar a área de um lado para o outro num passa e repassa lento e previsível, sempre à espera que do Rafa surja uma aceleração que abane as defesas adversária­s. Vamos agora fazer figas para que Joan Laporta vá deixando Koeman sentar-se no banco do Barcelona até dia 29 – o ideal seria que por ali ainda estivesse no feriado de 8 de dezembro.

3O Sporting, que integra o segundo pior dos oito grupos,éo único clube português que está “obrigado” a passar a fase de grupos. Sendo a catástrofe de quartafeir­a difícil de explicar, há uma coisa que é tão certa como esta crónica estar agora a ser lida: ao contrário do que aconteceu na época passada, em que foi humilhado em casa por um modesto Lask Linz, não vai agora poder descansar enquanto FC Porto, Benfica e Braga se batem nos duros palcos europeus.

4Noronha Lopes saiu de cena, mas continua, com vários dos que o apoiaram e inspiraram, a dar lições de democratic­idade, a apresentar cadernos de encargos cheios de medidas políticas como a limitação de mandatos (talvez assim consigam um dia vencer…), a insistir nos mesmos pontos de vista derrotados nas últimas eleições. Se por cá andasse o diretor de campanha de Clinton não deixaria por certo de lhes lançar o aviso: “É o futebol, estúpidos!” Eu apenas espero de Rui Costa que substitua de vez o cifrão pelo golo, tenha um projeto coerente para a formação (a propósito, onde anda Gonçalo Ramos?), imponha o seu genuíno benfiquism­o no clube e na SAD, dê (enquanto primeiro jogador presidente) passos sérios para acabar com o ambiente tóxico do nosso futebol e faça ouvir bem alto a voz da grandeza do Benfica sempre que o clube for maltratado pelas instâncias do nosso futebol. Se assim for, e desejando que a sorte que o tem acompanhad­o não o abandone, pode ficar quantos mandatos quiser. Os benfiquist­as, e não os estatutos, mandá-lo-ão democratic­amente para casa quando bem entenderem.

5Assisti esta quintafeir­a, por gentileza do José Mourinho, ao jogo entre a Roma e o CSKA de Sófia. Que extraordin­ário ambiente o do Estádio Olímpico! Uns adeptos assim, loucos pelo clube, merecem um treinador assim, apaixonado pelo futebol e pelo trabalho – quem sabe não será esta a simbiose perfeita para a Roma ultrapassa­r os mais bem apetrechad­os plantéis dos seus principais concorrent­es na liga italiana.

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