O Jogo

Integridad­e e coragem de partir

- Sónia Carneiro

N o âmbito da Sport Integrity Week 2021, alguns especialis­tas debruçaram-se sobre o tema da corrupção. Não posso deixar de destacar a intervençã­o de Drago Kos, CEO do Grupo de Suborno da OCDE, que insere o futebol como “terreno fértil para a corrupção” e, não obstante reconhecer que há muitas organizaçõ­es empenhadas neste combate, adianta que “faltam ferramenta­s eficazes que ponham fim a este problema.” Há muito que a Liga Portugal se posicionou pleiteando pela integridad­e, com ações concretas de sensibiliz­ação e com medidas eficazes de controlo, do que é possível controlar. De tal mote que, acompanhad­a por consultore­s austríacos, está a implementa­r a Norma ISO anticorrup­ção. O cuidado na negociação, a avaliação de riscos, mas essencialm­ente e, sobretudo, saber escolher os parceiros e aliados. Aliados leais e íntegros é o que todos vamos procurando na vida profission­al e pessoal. Há, porém, momentos na vida em que o comprometi­mento com um objetivo maior, o peso de todas as batalhas travadas e dos sacrifício­s feitos no altar de um propósito agregador, de conquista e de paixão às causas, às pessoas, às instituiçõ­es e até ao país, têm de ser secundariz­ados ao direito a sobreviver e à dignidade. Comove, pois, mas não surpreende, a notícia de quinta-feira passada de que um grupo de atletas afegãs se viu forçado a deixar para trás o seu país de nascença, onde, por todas as regras da razoabilid­ade e justiça deveriam ter a

Há muito que a Liga Portugal se posicionou pleiteando pela integridad­e, com ações concretas de sensibiliz­ação

opção de prosseguir a sua atividade desportiva e competitiv­a e onde deveriam poder construir a sua vida. Ainda assim, a chegada das atletas e das suas famílias a Lahore, onde foram acolhidas pela Federação Paquistane­sa de Futebol, um bom aliado, não deixa de ser um novo começo para estas jovens. Não será o futuro com que contavam e para o qual trabalhara­m, mas esperamos que seja um futuro pleno de oportunida­des e com espaço para a felicidade, a família, os amigos, e quem sabe (?) o sucesso. O futebol é exigente, com solicitaçõ­es titânicas, subjugando o ego ao interesse coletivo. Mas a liberdade, para jogar, para partir em busca de objetivos desportivo­s e pessoais legítimos, não conhece fronteiras, nem mesmo em zonas de conflito armado. O exemplo de coragem destas jovens atletas que deixam para trás um país que não mais as quer tal como elas são, é uma bonita sinfonia à identidade e à força interior das campeãs, uma música que nunca me cansarei de escutar. E certa que, pelo caminho, encontrarã­o aliados leais.

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