O Jogo

A mediocrida­de em todo o seu esplendor

- José João Torrinha

Sou daqueles que pensa que a qualidade de um árbitro não se mede em penáltis ou faltas mal assinalada­s, ou em foras-de-jogo mal tirados.

Um árbitro até pode ser competente a analisar tais lances, mas se não tiver bom senso, se não souber qual o seu papel dentro do espetáculo que é um jogo de futebol, será sempre um árbitro medíocre.

No passado domingo tivemos em Guimarães um exemplo dessa mediocrida­de em todo o seu esplendor.

Começou logo no primeiro lance polémico da partida. Vistas todas as repetições que estão disponívei­s, de todos os ângulos possíveis, em nenhum se consegue vislumbrar qualquer toque de Alfa Semedo no avançado do Belenenses. Um lance de tanta incerteza que merecia uma decisão de bom senso: na dúvida, não tomar uma decisão extrema que pode estragar o espetáculo logo no seu início.

Assim não entendeu o árbitro: falta e vermelho direto para o jogador vitoriano.

Mas o pior estava ainda para vir. Um árbitro tem de perceber que o seu papel no desafio não é o de protagonis­ta. Esses são os jogadores e os treinadore­s. O sr. Hélder Malheiro claramente não concorda e assumiu ser ele o homem do jogo.

Todos os lances que se seguiram à expulsão foram um hino ao protagonis­mo do senhor do apito. Chegou ao cúmulo de um agarrão pela cintura ao nosso capitão (um daqueles lances em que quem agarra o faz de forma consciente para parar a jogada e seguro de levar amarelo) não ter merecido qualquer punição disciplina­r por parte do árbitro.

O protagonis­ta do jogo vestia agora de amarelo e conseguiu pôr adeptos e mesmo jogadores vitorianos com os nervos em franja. O clima foi-se tornando, de forma perfeitame­nte escusada, mais e mais crispado.

Para tudo isso contribuiu ainda uma atitude explicitam­ente provocatór­ia da parte do juiz da partida. Com aquele ambiente e perante alguns arremessos de objetos da bancada, Malheiro insistia em atravessar o campo para entregar os mesmos a quem de direito, coisa que podia fazer de forma discreta se realmente quisesse serenar os ânimos. Não queria.Perante tudo isto, resta assinalar o que de melhor o jogo trouxe: a reação por parte dos adeptos vitorianos. Entusiasma­nte, vibrante, a apoiar a equipa quando ela mais precisava. Reduzido a nove jogadores, o Vitória foi amparado pelo seu público em mais uma manifestaç­ão de fervor clubístico que só esta terra e este clube conseguem dar. Foi esse apoio que permitiu que a equipa não desmoronas­se e que incentivou os jogadores a nunca desistirem de tentar ganhar o jogo. Um suplemento de alma que contrastou com a falta dela por parte do adversário, incapaz de se impor, mesmo com tudo a seu favor.

À hora que escrevo estas linhas ainda não decorreu o jogo contra o Arouca. Mas qualquer que tenha sido o resultado nada apaga a jornada épica de domingo passado, onde um ponto valeu mais do que três.

Um árbitro tem de entender que o seu papel num jogo não é o de protagonis­ta. Assim não enetendeu Hélder Malheiro

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Pontapé para a clínica

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