É com troféus que o Braga se expande e fideliza adeptos
O inglês Desmond Morris foi biólogo, zoólogo e até pintor surrealista. Mas ficou conhecido do grande público após a publicação do seu famoso livro “A Tribo do Futebol”, em 1978. Nesse livro, o autor faz uma analogia entre os clubes de futebol e as tribos nas sociedades caçadoras e recolectoras, criando laços conceptuais entre muitos aspetos da vida em tribo e da vida em clube. Os tabus tribais são as regras do jogo, os heróis ancestrais são os futebolistas ou dirigentes que marcaram a vida do clube, as estratégias tribais das caçadas ou das batalhas são as táticas dos treinadores, o estádio transforma-se no território tribal, os cânticos e as manifestações de adeptos são os análogos futebolísticos dos rituais, etc. São dezenas as ligações e analogias que o autor estabelece, sempre com uma fundamentação enxertada no seu profundo conhecimento da antropologia e da sociobiologia. Uma delas é a celebração catártica das vitórias: ao vencer troféus, o clube, tal como a tribo, conquista territórios e celebra os seus valores. É com as vitórias e com a conquista de troféus que os clubes, tal como as tribos, vão conquistando novas paragens, ganhando dimensão, vão fidelizando os seus adeptos e fazendo crescer a sua base de apoio. Vem isto a propósito da circunstância de neste fim de semana o SC Braga dar início à defesa do título de vencedor da Taça de Portugal da época transata. Um clube como o Braga, em franco crescimento e gradual implementação e conquista de novos territórios, necessita de vencer troféus para se afirmar e para ganhar dimensão. Sabendo bem que vencer as provas de longa duração, como um campeonato, é uma tarefa extremamente difícil e depende muito dos adversários mais poderosos claudicarem nos seus percursos, resta-nos apostar forte nas taças (de Portugal e da Liga). Vencer uma taça é um momento de celebração catártica para os adeptos, de alegria comunitária e ritualística, que, no caso do Braga, contamina toda a cidade. Mas não só. Pedro e Catarina são dois artistas que vivem no Alentejo (ele é músico e ela pintora). Ele é um homem originário do
Alto Minho e adepto de futebol, cujas predileções clubísticas iam, de forma generalística, para os clubes minhotos. Em 2016, tiveram uma filha, de nome Carlota, que nasceu no dia 22 de maio. Nesse dia, em Lisboa, o Braga vencia a Taça de Portugal, numa disputadíssima final contra o FC Porto. Pedro, tal como um homem de uma tribo, viu nesta coincidência de datas um profundo sinal ritualístico e, nesse mesmo dia, ligou-me para eu lhe enviar três camisolas do SC Braga. Hoje, o Pedro, a Catarina e a Carlota são membros da nossa tribo, a tribo do SC Braga.
Vencer um campeonato é uma tarefa extremamente difícil e depende muito dos rivais mais poderosos claudicarem nos seus percursos, por isso resta-nos apostar forte nas taças