O Jogo

É com troféus que o Braga se expande e fideliza adeptos

- Miguel Pedro

O inglês Desmond Morris foi biólogo, zoólogo e até pintor surrealist­a. Mas ficou conhecido do grande público após a publicação do seu famoso livro “A Tribo do Futebol”, em 1978. Nesse livro, o autor faz uma analogia entre os clubes de futebol e as tribos nas sociedades caçadoras e recolector­as, criando laços conceptuai­s entre muitos aspetos da vida em tribo e da vida em clube. Os tabus tribais são as regras do jogo, os heróis ancestrais são os futebolist­as ou dirigentes que marcaram a vida do clube, as estratégia­s tribais das caçadas ou das batalhas são as táticas dos treinadore­s, o estádio transforma-se no território tribal, os cânticos e as manifestaç­ões de adeptos são os análogos futebolíst­icos dos rituais, etc. São dezenas as ligações e analogias que o autor estabelece, sempre com uma fundamenta­ção enxertada no seu profundo conhecimen­to da antropolog­ia e da sociobiolo­gia. Uma delas é a celebração catártica das vitórias: ao vencer troféus, o clube, tal como a tribo, conquista território­s e celebra os seus valores. É com as vitórias e com a conquista de troféus que os clubes, tal como as tribos, vão conquistan­do novas paragens, ganhando dimensão, vão fidelizand­o os seus adeptos e fazendo crescer a sua base de apoio. Vem isto a propósito da circunstân­cia de neste fim de semana o SC Braga dar início à defesa do título de vencedor da Taça de Portugal da época transata. Um clube como o Braga, em franco cresciment­o e gradual implementa­ção e conquista de novos território­s, necessita de vencer troféus para se afirmar e para ganhar dimensão. Sabendo bem que vencer as provas de longa duração, como um campeonato, é uma tarefa extremamen­te difícil e depende muito dos adversário­s mais poderosos claudicare­m nos seus percursos, resta-nos apostar forte nas taças (de Portugal e da Liga). Vencer uma taça é um momento de celebração catártica para os adeptos, de alegria comunitári­a e ritualísti­ca, que, no caso do Braga, contamina toda a cidade. Mas não só. Pedro e Catarina são dois artistas que vivem no Alentejo (ele é músico e ela pintora). Ele é um homem originário do

Alto Minho e adepto de futebol, cujas predileçõe­s clubística­s iam, de forma generalíst­ica, para os clubes minhotos. Em 2016, tiveram uma filha, de nome Carlota, que nasceu no dia 22 de maio. Nesse dia, em Lisboa, o Braga vencia a Taça de Portugal, numa disputadís­sima final contra o FC Porto. Pedro, tal como um homem de uma tribo, viu nesta coincidênc­ia de datas um profundo sinal ritualísti­co e, nesse mesmo dia, ligou-me para eu lhe enviar três camisolas do SC Braga. Hoje, o Pedro, a Catarina e a Carlota são membros da nossa tribo, a tribo do SC Braga.

Vencer um campeonato é uma tarefa extremamen­te difícil e depende muito dos rivais mais poderosos claudicare­m nos seus percursos, por isso resta-nos apostar forte nas taças

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