Anuário do Futebol Profissional 2020-21: um ano sem paralelo!
D ia 19 de fevereiro, foi publicada a 5.ª edição do Anuário do Futebol Profissional Português, produzida pela EY em parceria com a Liga Portugal. Este documento retrata uma época marcada integralmente pela pandemia da covid-19, sem público nos estádios, e evidencia, pelo seu crescimento, a resiliência da indústria e dos seus “stakeholders”, assim como a sua relevância para a economia nacional. Na época 2020-21, o Futebol Profissional Português registou um volume de negócios de €792 milhões, tendo contribuído diretamente para o Produto Interno Bruto com mais de €550 milhões (0,25% do total). Este valor corresponde a um aumento de 11,3% face à época anterior e traduz-se numa retoma dos valores prépandemia. As 34 Sociedades Desportivas (SD) das I e II Ligas nacionais e a Liga Portugal entregaram, no total, cerca de €192 milhões de impostos ao Estado e foram responsáveis por 3.729 postos de trabalho. Estes valores representam aumentos respetivos de 2,5% e 149 postos comparativamente à época anterior. Será que o crescimento veio para ficar? Será sustentável? Parece-me que sim. O regresso do público aos estádios, acompanhado por maior um investimento na afirmação do Futebol Profissional português internacionalmente contribuirá para a manutenção desta tendência de crescimento, bem como para um maior dinamismo competitivo. No Anuário, para além da análise económica, abordamos também os temas quentes da indústria, dos quais destaco três que considero determinantes para o crescimento do Futebol Profissional Português. Começo pela centralização dos direitos audiovisuais das SD. Esta iniciativa conduzirá a uma valorização agregada da receita estimada entre 56-85% e à redução das disparidades financeiras entre SD através de um modelo de distribuição da receita audiovisual mais equitativo. De facto, observa-se que a implementação deste modelo em Espanha não se materializou numa quebra das receitas dos clubes de maior dimensão (Barcelona e Real Madrid), tendo até incrementado progressivamente as receitas dos restantes, o que demonstra os benefícios claros desta abordagem. Este foi o tema dominante da oitava Cimeira de Presidentes dos clubes da I e II Ligas de futebol, realizada na passada terça-feira dia 22 de fevereiro. Nesta cimeira, as SD comprometeram-se a operacionalizar a negociação centralizada dos direitos televisivos antes do prazo legal decretado (2028-29), apontando a temporada 2023-24 como o ano objetivo para a implementação. Entendo também que a sustentabilidade da indústria passará pela capacidade das SD aproveitarem o upside gerado pela comercialização centralizada dos direitos audiovisuais, apostando na capacitação das equipas de gestão. É fundamental continuar o percurso de profissionalização e de enriquecimento de talentos na indústria do futebol, investindo em áreas como o marketing, gestão e tecnologia. Finalmente, destaco o envolvimento e relação com o adepto. É imperativo que as SD e a Liga Portugal continuem o esforço de adaptação ao perfil do adepto, indo além da criação de conteúdos over-the-top (OTT), participação nas redes sociais e dinamização de eventos de eSports. É
É imperativo que as Sociedades Desportivas e a Liga continuem o esforço de adaptação ao perfil do adepto
importante otimizar o potencial do blockchain através de, por exemplo, non-fungible tokens (que ganharam visibilidade depois de se estrearem nas fantasy leagues) e desenvolver e executar com rigor estratégias omnicanal que complementem o envolvimento do adepto fora do estádio com uma experiência mais social e digital no estádio. Isto porque as fronteiras de participação dos adeptos na era digital estão a alargarse, seja como resultado das restrições impostas no combate à pandemia, seja pelo crescente interesse pela gamificação das experiências. Estes e outros tantos temas moldam o futebol hoje. O Anuário sistematizaos e dá-lhes visibilidade, assim como evidencia o impacto e o desempenho da indústria. É um documento de análise ímpar, cuja relevância é cada vez maior e que, por isso, convido todos a ler. É um prazer produzi-lo, pela quinta vez, em parceria com a Liga Portugal.