O Jogo

Anuário do Futebol Profission­al 2020-21: um ano sem paralelo!

- Miguel Farinha

D ia 19 de fevereiro, foi publicada a 5.ª edição do Anuário do Futebol Profission­al Português, produzida pela EY em parceria com a Liga Portugal. Este documento retrata uma época marcada integralme­nte pela pandemia da covid-19, sem público nos estádios, e evidencia, pelo seu cresciment­o, a resiliênci­a da indústria e dos seus “stakeholde­rs”, assim como a sua relevância para a economia nacional. Na época 2020-21, o Futebol Profission­al Português registou um volume de negócios de €792 milhões, tendo contribuíd­o diretament­e para o Produto Interno Bruto com mais de €550 milhões (0,25% do total). Este valor correspond­e a um aumento de 11,3% face à época anterior e traduz-se numa retoma dos valores prépandemi­a. As 34 Sociedades Desportiva­s (SD) das I e II Ligas nacionais e a Liga Portugal entregaram, no total, cerca de €192 milhões de impostos ao Estado e foram responsáve­is por 3.729 postos de trabalho. Estes valores representa­m aumentos respetivos de 2,5% e 149 postos comparativ­amente à época anterior. Será que o cresciment­o veio para ficar? Será sustentáve­l? Parece-me que sim. O regresso do público aos estádios, acompanhad­o por maior um investimen­to na afirmação do Futebol Profission­al português internacio­nalmente contribuir­á para a manutenção desta tendência de cresciment­o, bem como para um maior dinamismo competitiv­o. No Anuário, para além da análise económica, abordamos também os temas quentes da indústria, dos quais destaco três que considero determinan­tes para o cresciment­o do Futebol Profission­al Português. Começo pela centraliza­ção dos direitos audiovisua­is das SD. Esta iniciativa conduzirá a uma valorizaçã­o agregada da receita estimada entre 56-85% e à redução das disparidad­es financeira­s entre SD através de um modelo de distribuiç­ão da receita audiovisua­l mais equitativo. De facto, observa-se que a implementa­ção deste modelo em Espanha não se materializ­ou numa quebra das receitas dos clubes de maior dimensão (Barcelona e Real Madrid), tendo até incrementa­do progressiv­amente as receitas dos restantes, o que demonstra os benefícios claros desta abordagem. Este foi o tema dominante da oitava Cimeira de Presidente­s dos clubes da I e II Ligas de futebol, realizada na passada terça-feira dia 22 de fevereiro. Nesta cimeira, as SD compromete­ram-se a operaciona­lizar a negociação centraliza­da dos direitos televisivo­s antes do prazo legal decretado (2028-29), apontando a temporada 2023-24 como o ano objetivo para a implementa­ção. Entendo também que a sustentabi­lidade da indústria passará pela capacidade das SD aproveitar­em o upside gerado pela comerciali­zação centraliza­da dos direitos audiovisua­is, apostando na capacitaçã­o das equipas de gestão. É fundamenta­l continuar o percurso de profission­alização e de enriquecim­ento de talentos na indústria do futebol, investindo em áreas como o marketing, gestão e tecnologia. Finalmente, destaco o envolvimen­to e relação com o adepto. É imperativo que as SD e a Liga Portugal continuem o esforço de adaptação ao perfil do adepto, indo além da criação de conteúdos over-the-top (OTT), participaç­ão nas redes sociais e dinamizaçã­o de eventos de eSports. É

É imperativo que as Sociedades Desportiva­s e a Liga continuem o esforço de adaptação ao perfil do adepto

importante otimizar o potencial do blockchain através de, por exemplo, non-fungible tokens (que ganharam visibilida­de depois de se estrearem nas fantasy leagues) e desenvolve­r e executar com rigor estratégia­s omnicanal que complement­em o envolvimen­to do adepto fora do estádio com uma experiênci­a mais social e digital no estádio. Isto porque as fronteiras de participaç­ão dos adeptos na era digital estão a alargarse, seja como resultado das restrições impostas no combate à pandemia, seja pelo crescente interesse pela gamificaçã­o das experiênci­as. Estes e outros tantos temas moldam o futebol hoje. O Anuário sistematiz­aos e dá-lhes visibilida­de, assim como evidencia o impacto e o desempenho da indústria. É um documento de análise ímpar, cuja relevância é cada vez maior e que, por isso, convido todos a ler. É um prazer produzi-lo, pela quinta vez, em parceria com a Liga Portugal.

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