O Jogo

“ESPERO COMEÇAR UMA VIDA NOVA POR CÁ”

O ex-médio deixou Kharkiv com a dor de ver a sua cidade destruída pelas bombas russas. “Quando fugi, com a esposa e os dois filhos, trouxe apenas três malas”, contou a O JOGO

- PEDRO MIGUEL AZEVEDO

Jogador das águias entre 1998 e 2001, que viu na Luz o Benfica-Estoril ao lado de ex-colegas e amigos, acredita que pode encontrar trabalho em Portugal depois de ver a sua casa na Ucrânia atingida.

A guerra derivada da invasão da Rússia à Ucrânia já fez muitas vítimas e, entre elas, está o modo de vida do povo ucraniano. Na fuga à destruição das bombas, ficam para trás famílias, amigos mas também objetos e habitações até agora base segura mas, no presente, alvos fáceis. A fugir dessa destruição, chegou a Portugal no passado dia 11 Kandaurov, ele que trouxe a família mais próxima consigo mas que teve de deixar, por exemplo, os sogros. Anteontem, esteve no Estádio da Luz a convite de Rui Costa, onde assistiu ao triunfo das águias frente ao Estoril, num momento que serviu para esquecer, por noventa minutos, o drama que o trouxe de regresso a Portugal. A O JOGO, o antigo médio, que jogou pelos encarnados entre 1998 e 2001, lembrou não só o drama que viveu na sua terra mas, acima de tudo, a esperança num recomeço longe do medo.

“Espero encontrar aqui algum trabalho e começar uma nova vida. Para já, a prioridade é resolver a minha vida por cá, depois vamos ver se volto ou não para a Ucrânia. O Benfica, através da sua fundação, já começou a ajudar os meus filhos, com algum dinheiro e roupa. Espero que tudo corra pelo melhor. Viemos com a esperança de dias mais felizes”, justifica Kandaurov.

Para trás, ficou uma vida em ruínas em Kharkiv, onde o ex-jogador era diretor desportivo de uma escola de formação do Benfica, entretanto fechada por tempo indetermin­ado e onde terminou em 2006/07 a carreira de futebolist­a no FC Kharkiv. “Estou muito triste... Vivia em Kharkiv, onde também tinha a família da minha esposa. Confesso que não gosto de russos por tudo o que estão a fazer ao meu país e à minha cidade, que era tão bonita. Destruíram tudo, até a minha casa, onde já não poderei voltar a viver. Eu vivia no centro de Kharkiv, ficámos com todos os vidros e o resto partidos. Quando fugi de lá, com a esposa e os dois filhos, trouxemos apenas três malas”, lembrou Kandaurov com a tristeza na voz de quem se viu privado de tudo de um momento para o outro. “Na Ucrânia ficaram ainda os pais da minha esposa, que fugiram para perto da fronteira na Polónia. Se eles quisessem, podiam passar a fronteira mas não querem fugir do seu país, deixar a sua vida para trás”, acrescenta.

Na Luz com amigos a recordar a paixão

Mas apesar dos dramas pessoais Kandaurov mantém a grande paixão pelo futebol e, também, pelo Benfica, clube onde deixou alguma marca e que lhe retribuiu esse carinho. No Estádio da Luz, neste domingo à tarde, Kandaurov diluiu parte da mágoa das últimas semanas, vendo um jogo de futebol aos lado de ex-colegas e amigos no Benfica, entre eles “Paulo Madeira, Bruno Basto e Simão”. Gostou do que viu, confessa, e mantém a fé num fim de época positivo: “Ainda não acabou o campeonato e o Benfica ainda pode subir na tabela”.

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Kandaurov dirigia uma escola de formação do Benfica em Kharkiv, na Ucrânia, mas teve de fugir para Lisboa
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