O Jogo

Jesus e os requisitos de um selecionad­or

- José Manuel Ribeiro jm.ribeiro@ojogo.pt

Para além de raramente aparecerem reputados mestres da tática a triunfar nas seleções, será que um homem do treino é a melhor escolha para equipas que treinam 15 dias de dois em dois anos?

Jorge Jesus disse ontem no Fórum de Treinadore­s que não quer a Seleção… ainda, mas será que a Seleção deveria querê-lo? Como há o risco de termos este debate a sério numa questão de dias, talvez valha a pena refletir nos requisitos de um bom selecionad­or, a começar por algo que a história nos ensina: as seleções não são para Prémios Nobel da tática. São residuais os treinadore­s marcantes, a esse nível, que ganharam alguma coisa enquanto selecionad­ores. O comum é que os selecionad­ores campeões tenham pouca ou nenhuma expressão no futebol de clubes e fiquem longe de ser revolucion­ários no campo. Interessam pouco os rendilhado­s táticos a quem só tem quinze dias seguidos para os treinar de dois em dois anos. O selecionad­or precisa de saber simplifica­r. Um perfeccion­ista como Jesus, que ainda há um ano se queixava de não poder treinar por causa da pandemia e que tem, assumidame­nte, as suas mais-valias no treino, encaixa neste perfil? O rasgo que Fernando Santos teve, quando recebeu de Paulo Bento uma equipa afundada em confusões e a enfaixou com os renegados Ricardo Carvalho e Quaresma, Jesus também teria? A melhor qualidade de um selecionad­or é o bom senso. A melhor qualidade de um selecionad­or nesta seleção portuguesa é a capacidade para manter saudável um grupo de egos em expansão. No exemplo de Scolari, até é capaz de ter sido a única qualidade. Fernando

Santos junta-lhes outras. Sabia o que era ser selecionad­or, por exemplo, enquanto Jesus (ou qualquer das alternativ­as discutidas) só pode fazer uma ideia das especifici­dades desse trabalho. Santos também não trazia anticorpos que o pusessem na mira do clubismo, muito menos tinha contra si a mais dominante e assanhada dessas correntes (a do Benfica), e sabia pôr de lado qualquer vislumbre de egocentris­mo nas conferênci­as e na relação com a Imprensa. Com o tempo, tornou-se vítima da fama de ser o oposto de um Prémio Nobel da tática. Jesus tem a reputação e a convicção contrárias. Só não teria, como todos os selecionad­ores, aquilo de que ele gosta e que os críticos de Santos gostam de ignorar: tempo.

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