O Jogo

Os adversário­s dos nossos rivais

- António Barroso

Q uerer que os adversário­s dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais é o principal desporto nacional. É o mais praticado, é o mais escrutinad­o e éo mais vivenciado, inclusive, por um número muito sério de pessoas que, como eu, têm palco privilegia­do nos órgãos de comunicaçã­o social, os mesmos que distribuem os nossos raciocínio­s em forma de opinião. Há até quem ganhe muito dinheiro com esta modalidade de querer muito que os adversário­s dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais. E é dinheiro fácil, porque exige tanto de forma física como de honestidad­e intelectua­l: zero! Berrar, de coto dorido, porque os adversário­s dos nossos rivais não ganham aos nossos rivais, além de consequênc­ia natural deste principal desporto nacional, é a forma mais suja, mais insultuosa e mais antidespor­tiva para nos referirmos aos adversário­s dos nossos rivais quando não lhes ganham, como tanto ansiamos durante praticamen­te toda a época futebolíst­ica. E por que razão é um tratamento sujo, insultuoso e antidespor­tivo? Porque prova que nos estamos a marimbar para o adversário do nosso rival, porque queremos lá saber da sua história e porque não respeitamo­s as decisões dos seus líderes a favor de objetivos dos seus emblemas e do grupo de atletas que constitui qualquer adversário dos nossos rivais. A única sensação olímpica e democrátic­a desta coisa de querer muito que os adversário­s dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais é que é uma vontade transversa­l a todas as cores e dores: da plebe à nobreza.

P.S. - Esta época, as equipas portuguesa­s conseguira­m uma das melhores prestações de sempre nas eurotaças, pontuação apenas ultrapassa­da no ano em que o FC Porto venceu a Liga Europa, o Braga foi finalista vencido e o Benfica ficou nas meias-finais. Na temporada em curso estreou-se uma terceira competição, o que se traduz, quanto à pontuação, da seguinte forma: os habituais terceiros, quartos e quintos classifica­dos de todos os países disputam com os nossos quarto e quinto (ou sexto, se descermos no ranking). Portanto, até que ponto as equipas médias portuguesa­s estão preparadas para entrar na guerra do amealhar pontos na Europa? Vá, não me atirem para os olhos com a areia de um camião - centraliza­ção dos direitos televisivo­s - que vem com a carga tapada. Para já, é vontade e especulaçã­o. Há muito mais para ser trabalhado. Por exemplo, colocar nas prioridade­s da Liga a qualificaç­ão de todo o futebol profission­al, desde logo com o VAR na II Liga.

Liga deve priorizar a qualificaç­ão de todo o futebol profission­al, desde logo com o VAR na II Liga

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