Os adversários dos nossos rivais
Q uerer que os adversários dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais é o principal desporto nacional. É o mais praticado, é o mais escrutinado e éo mais vivenciado, inclusive, por um número muito sério de pessoas que, como eu, têm palco privilegiado nos órgãos de comunicação social, os mesmos que distribuem os nossos raciocínios em forma de opinião. Há até quem ganhe muito dinheiro com esta modalidade de querer muito que os adversários dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais. E é dinheiro fácil, porque exige tanto de forma física como de honestidade intelectual: zero! Berrar, de coto dorido, porque os adversários dos nossos rivais não ganham aos nossos rivais, além de consequência natural deste principal desporto nacional, é a forma mais suja, mais insultuosa e mais antidesportiva para nos referirmos aos adversários dos nossos rivais quando não lhes ganham, como tanto ansiamos durante praticamente toda a época futebolística. E por que razão é um tratamento sujo, insultuoso e antidesportivo? Porque prova que nos estamos a marimbar para o adversário do nosso rival, porque queremos lá saber da sua história e porque não respeitamos as decisões dos seus líderes a favor de objetivos dos seus emblemas e do grupo de atletas que constitui qualquer adversário dos nossos rivais. A única sensação olímpica e democrática desta coisa de querer muito que os adversários dos nossos rivais ganhem aos nossos rivais é que é uma vontade transversal a todas as cores e dores: da plebe à nobreza.
P.S. - Esta época, as equipas portuguesas conseguiram uma das melhores prestações de sempre nas eurotaças, pontuação apenas ultrapassada no ano em que o FC Porto venceu a Liga Europa, o Braga foi finalista vencido e o Benfica ficou nas meias-finais. Na temporada em curso estreou-se uma terceira competição, o que se traduz, quanto à pontuação, da seguinte forma: os habituais terceiros, quartos e quintos classificados de todos os países disputam com os nossos quarto e quinto (ou sexto, se descermos no ranking). Portanto, até que ponto as equipas médias portuguesas estão preparadas para entrar na guerra do amealhar pontos na Europa? Vá, não me atirem para os olhos com a areia de um camião - centralização dos direitos televisivos - que vem com a carga tapada. Para já, é vontade e especulação. Há muito mais para ser trabalhado. Por exemplo, colocar nas prioridades da Liga a qualificação de todo o futebol profissional, desde logo com o VAR na II Liga.
Liga deve priorizar a qualificação de todo o futebol profissional, desde logo com o VAR na II Liga