Tecnologia: aliada ou fonte de polémica?
N o passado fim de semana, tivemos mais um caso de um fora de jogo milimétrico assinalado em Portugal, no caso num jogo decisivo. Tendo como ponto de partida este lance, é importante analisar se a tecnologia tem contribuído para redução da margem de erro na arbitragem. O futebol iniciou mais tarde a introdução de componentes tecnológicas na arbitragem. A tecnologia de “olho de falcão” foi implementada de forma oficial no ténis e no cricket no início do século XXI, na mesma fase em que foi implementado o TMO (Television Match Official) no rugby. Por sua vez, o VAR foi implementado em 2017/18 na I Liga Portuguesa. A implementação do VAR não foi unânime: para os defensores, cria maior justiça ao minimizar o erro, por outro lado, os céticos, defendem que leva demasiado tempo até à tomada de decisão e que o erro humano faz parte do futebol. Um dos elementos provocadores de maior discórdia é a interpretação da regra de fora de jogo através do VAR. As linhas utilizadas no VAR para determinação de um fora de jogo foram introduzidas em Portugal na época de 2019/20. De acordo com o Portugal Football Observatory, órgão da Federação Portuguesa de Futebol, “a operação do sistema é feita por um operador dedicado que de acordo com indicações da equipa VAR apresenta o frame e pontos relevantes e corretos usando (…) zoom”. Um relatório deste órgão refere que a introdução das linhas resultou no aumento do número de foras de jogo. Na época de 2018/19 (pré-implementação), os fora de jogo correspondiam a 70% dos golos anulados, tendo este valor subido para 81% na época de 2019/20 (pós implementação). Com o intuito de colocar termo ao que foi apelidado na Premier League de “forensic scrutiny” (escrutínio forense), a Professional Game Match Officials Board introduziu, em 2021/22, linhas de fora de jogo mais largas que acrescentam maior margem na análise dos fora de jogo, erradicando casos triviais em que, de acordo com Mike Riley, árbitro da Premier League, os golos eram anulados devido ao nariz ou dedos do pé dos jogadores. Também o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, em 2019, mostrou desagrado face à subjetividade aplicada no desenho das linhas de fora de jogo. Concluindo, parece-me óbvio que a introdução da tecnologia é essencial no intuito de reduzir o erro humano, mas não pode contribuir para gerar mais subjetividade sobre a sua implementação. Os atuais modelos em teste de Semi-Automated VAR, um sistema que utiliza inteligência artificial e modelos tridimensionais de análise automatizada em tempo real, podem ajudar, mas enquanto os mesmos não são implementados, é essencial a introdução de medidas como as linhas mais largas ou a introdução de uma margem de erro aceitável, para evitar situações que a própria tecnologia não consegue validar a 100%.