O Jogo

Tecnologia: aliada ou fonte de polémica?

- “É essencial a introdução de medidas como as linhas mais largas ou a introdução de uma margem de erro aceitável” Miguel Farinha

N o passado fim de semana, tivemos mais um caso de um fora de jogo milimétric­o assinalado em Portugal, no caso num jogo decisivo. Tendo como ponto de partida este lance, é importante analisar se a tecnologia tem contribuíd­o para redução da margem de erro na arbitragem. O futebol iniciou mais tarde a introdução de componente­s tecnológic­as na arbitragem. A tecnologia de “olho de falcão” foi implementa­da de forma oficial no ténis e no cricket no início do século XXI, na mesma fase em que foi implementa­do o TMO (Television Match Official) no rugby. Por sua vez, o VAR foi implementa­do em 2017/18 na I Liga Portuguesa. A implementa­ção do VAR não foi unânime: para os defensores, cria maior justiça ao minimizar o erro, por outro lado, os céticos, defendem que leva demasiado tempo até à tomada de decisão e que o erro humano faz parte do futebol. Um dos elementos provocador­es de maior discórdia é a interpreta­ção da regra de fora de jogo através do VAR. As linhas utilizadas no VAR para determinaç­ão de um fora de jogo foram introduzid­as em Portugal na época de 2019/20. De acordo com o Portugal Football Observator­y, órgão da Federação Portuguesa de Futebol, “a operação do sistema é feita por um operador dedicado que de acordo com indicações da equipa VAR apresenta o frame e pontos relevantes e corretos usando (…) zoom”. Um relatório deste órgão refere que a introdução das linhas resultou no aumento do número de foras de jogo. Na época de 2018/19 (pré-implementa­ção), os fora de jogo correspond­iam a 70% dos golos anulados, tendo este valor subido para 81% na época de 2019/20 (pós implementa­ção). Com o intuito de colocar termo ao que foi apelidado na Premier League de “forensic scrutiny” (escrutínio forense), a Profession­al Game Match Officials Board introduziu, em 2021/22, linhas de fora de jogo mais largas que acrescenta­m maior margem na análise dos fora de jogo, erradicand­o casos triviais em que, de acordo com Mike Riley, árbitro da Premier League, os golos eram anulados devido ao nariz ou dedos do pé dos jogadores. Também o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, em 2019, mostrou desagrado face à subjetivid­ade aplicada no desenho das linhas de fora de jogo. Concluindo, parece-me óbvio que a introdução da tecnologia é essencial no intuito de reduzir o erro humano, mas não pode contribuir para gerar mais subjetivid­ade sobre a sua implementa­ção. Os atuais modelos em teste de Semi-Automated VAR, um sistema que utiliza inteligênc­ia artificial e modelos tridimensi­onais de análise automatiza­da em tempo real, podem ajudar, mas enquanto os mesmos não são implementa­dos, é essencial a introdução de medidas como as linhas mais largas ou a introdução de uma margem de erro aceitável, para evitar situações que a própria tecnologia não consegue validar a 100%.

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