Condenado a errar mesmo acertando
A quantidade de opções à disposição de Fernando Santos significa que há sempre, pelo menos, uma ponta por onde a crítica pegar
Na crónica do Espanha-Portugal de quintafeira, o diário desportivo Marca referia, a dado passo, que Fernando Santos tem tanto talento à disposição que precisaria de dois onzes para o apresentar todo ao mesmo tempo. Claro que nem todos os setores da equipa têm a mesma quantidade de opções disponíveis. No eixo da defesa, por exemplo, há cinco jogos que Portugal não pode usar a dupla que oferece mais garantias – Pepe e Rúben Dias – forçando o recuo e a adaptação de Danilo à posição. Mas a fartura de talento é uma bênção e, simultaneamente, uma cruz que o selecionador nacional carrega ao longo dos últimos anos. Só podem jogar onze de cada vez e contam-se pelos dedos da mão de um talhante míope aquelas em que, aos olhos da crítica, Fernando Santos acertou na fórmula. Na quinta-feira, frente à Espanha, em Sevilha, voltou a falhar, apesar de ter conseguido um empate que, aos olhos dos espanhóis, foi justo, mas por cá, foi à justa. Noutras circunstâncias, um treinador que tivesse feito entrar Ronaldo, Gonçalo Guedes e Ricardo Horta na etapa final do jogo para atacar o resultado e visse essas opções ofensivas premiadas com um golo, seria elogiado pela coragem de “meter a carne toda no assador” frente a um adversário tão poderoso como é a Espanha. Na circunstância que é a de Fernando Santos, questiona-se o facto de Horta não ter entrado mais cedo ou, recuando mais um pouco, de não ter sido chamado à Seleção antes. Depois há quem se surpreenda com o ar grave e sério do selecionador. Quem teria motivos para sorrir se estivesse condenado a falhar estrondosamente mesmo quando acerta em cheio? E no domingo há mais.