O Jogo

O que queremos do futebol?

- Dente de Leão

Na fase em que o mundo está, creio que somos todos chamados a repensar o que designamos de realidade, questionan­do desde logo a forma como a vivemos. Sabemos que há uma guerra na Ucrânia, mas muitos de nós, europeus, não se apercebem do contributo que dão para que ela se globalize, ao posicionar­em-se radicalmen­te contra qualquer opinião que divirja um pouco da narrativa oficial, segundo a qual Putin e a sua loucura são as origens de toda a catástrofe que desfila diante dos nossos olhos na televisão. Partindo do princípio de que a massa cinzenta está entre o preto e o branco, não parece difícil concluir que o extremar de posições em relação a esta guerra tende a impor a bitola da acefalia na abordagem aos problemas do mundo, um paradigma que já vem do tempo da pandemia, mais concretame­nte de quando abriu a época da caça a quem queria debater a fundo a questão das vacinas antes de decidir se arregaçava a manga da camisa. O futebol, fenómeno social de magnitude extraordin­ária, vive sob a mesma polarizaçã­o. Responsáve­is de clubes e organismos tutelares enchem a boca para dizer que temos de defender o negócio, mas enquanto os primeiros, por regra, continuam a atirar-se uns aos outros, os segundos assobiam para o lado, como se não fosse nada com eles. E a guerra continua, com o beneplácit­o da imprensa, sempre sonsa, dando ares de beatitude enquanto aproveita cada fogacho de polémica. Tal é o momento do mundo, tal é o momento do futebol. Objetarão: ok, sabes fazer diagnóstic­os, mas apresentar soluções “vai no Batalha”. O pano de fundo, uma sociedade atomizada, individual­izada, de comunicaçã­o sem comunidade, não ajuda, de facto, a esse exercício, que deveria ser concertado, mas se cada um de nós lançar para a praça pública as suas sugestões pode ser que alguma delas reúna consenso. Eu vou fazer a minha parte, com uma proposta que talvez soe ridícula, pela aparente insignific­ância. Pensando em pessoas associadas aos três grandes, perguntei-me quais me geravam mais simpatia. A resposta foi quase imediata: Rúben Amorim, Toni e Cândido Costa. São três embaixador­es do que de melhor tem o nosso futebol, pessoas dignas, respeitosa­s, alegres, honestas, simples, genuínas, generosas e, não menos importante, leves. Se FC Porto, Sporting e Benfica os promovesse­m como símbolos da sua identidade, em vez de se deixarem comunicar por “diretores” que só conhecem a linguagem da guerra, talvez o ar à volta da bola se tornasse mais respirável. É apenas uma ideia. Venham outras, está na hora de dizermos o que queremos deste mundo.

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