Quem Vieira ataca e quem Vieira poupa

Consta que o Inferno não conhece fúria semelhante à de uma mulher desprezada. Quem o diz, certamente ainda não viu a entrevista de Luís Filipe Vieira, ontem, à CMTV. O ex-presidente do Benfica disparou em todas as direções, mas fez sobretudo mira a Rui Costa. “Um líder que tem medo do ex-líder não lidera nada”, “não é de decisão firme, precisa de muito tempo para decidir” ou “aparecia uma hora por dia no Seixal” são apenas alguns exemplos dos mimos que Vieira dispensou ao sucessor. Em menos palavras, na visão do antecessor, Rui Costa tem medo, é inexperiente, indeciso e ausente: um poker perfeito de defeitos. Pior, só Rui Pedro Braz, que de acordo com o antigo presidente “tirava o tapete a Jesus todos os dias”, o que está longe de ser um bom cartão-de-visita para o caráter de qualquer pessoa, e menos ainda para um diretor-desportivo. Assim, de repente, entre os protagonistas dos últimos meses na Luz, apenas Soares de Oliveira terá escapado relativamente ileso à fúria de Vieira. A questão, claro, será saber se, no atual contexto, isso joga a seu favor ou se apenas fará levantar alguns sobrolhos desconfiados nas próximas reuniões da administração encarnada. Porque, apesar de a maior parte do discurso de Vieira poder ser descontado no facto de ele, claramente, se sentir apunhalado pelas costas por aqueles a quem deu a mão, há detalhes sobre negócios em curso que nos obrigam a pensar que o ex-presidente ainda vai sendo informado daquilo que se passa nos corredores mais estreitos do clube. De tal maneira que, ao mesmo tempo que prepara uma limpeza de balneário para atacar a próxima época, talvez Rui Costa deva pensar em rever a higiene de outras divisões da casa.