O Jogo

Mercado, dados e videojogos

- Miguel Farinha – Partner EY

Está prestes a começar uma fase de grande expectativ­a e entusiasmo para os adeptos, jogadores, dirigentes e media: o mercado de transferên­cias. A verdade é que, apesar do mercado só abrir oficialmen­te dia 1 de julho, já existem vários rumores. A grande mudança de paradigma nos últimos anos é que o mercado e a valorizaçã­o de jogadores são cada vez mais influencia­dos pela análise de dados e estatístic­as. Um caso mediático que prova esta tendências é o de De Bruyne (mencionado no último artigo) que recorreu a uma empresa de data analytics para negociar o contrato com o Manchester City. A análise de dados é vista, por parte dos diferentes stakeholde­rs, como uma fonte de vantagem competitiv­a. Cada vez mais a utilização de megadados (de big data) pelos clubes lhes permite extrair insights para melhorar o desempenho, prevenir lesões, prever o rendimento duma eventual contrataçã­o e aumentar a sua eficiência comercial. Contudo, a extração da informação e a sistematiz­ação dos conhecimen­tos não é ainda tarefa simples e acessível a todos. Por isso, ferramenta­s de suporte e processos criativos associados a esta tarefa são hoje frequentem­ente utilizadas. É o caso dos videojogos de simulação real. Um deles é o Football Manager (FM) que se tornou conhecido não só pela experiênci­a imersiva de comandar uma equipa como treinador, como também pela sua utilização no acesso a dados para ajudar na análise e nas transferên­cias. Depois do Everton assinar um acordo para usar a base de dados do FM para explorar novos talentos e de Solskjaer partilhar que o FM foi importante na preparação para a sua carreira de treinador, na época passada foi também Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, que admitiu que utilizava o jogo para ver as caracterís­ticas dos jogadores que a estrutura do Palmeiras lhe propunha (na vertente mental, técnica e física). Alguns clubes chegaram mesmo a contratar para a estrutura técnica especialis­tas do jogo. Por exemplo, em 2019, Andrej Pavlović, de 22 anos, recebeu uma oferta de emprego como analista de dados num clube da Sérvia depois de lhes ter enviado uma lista das conquistas notáveis que tinha alcançado no jogo ao fim de 16 épocas virtuais. De facto, o scouting é cada vez mais determinan­te para a estratégia de um clube. Os videojogos, dados de casas de apostas (bookmakers) e outras ferramenta­s e processos de data analytics proporcion­am o acesso facilitado a informação de jogadores e equipas de ligas profission­ais, mas também de ligas inferiores não profission­ais (aos quais nem todos os clubes podem enviar os seus próprios olheiros ou desenvolve­r contactos) e são vistos cada vez mais como de grande utilidade.

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