Mercado, dados e videojogos
Está prestes a começar uma fase de grande expectativa e entusiasmo para os adeptos, jogadores, dirigentes e media: o mercado de transferências. A verdade é que, apesar do mercado só abrir oficialmente dia 1 de julho, já existem vários rumores. A grande mudança de paradigma nos últimos anos é que o mercado e a valorização de jogadores são cada vez mais influenciados pela análise de dados e estatísticas. Um caso mediático que prova esta tendências é o de De Bruyne (mencionado no último artigo) que recorreu a uma empresa de data analytics para negociar o contrato com o Manchester City. A análise de dados é vista, por parte dos diferentes stakeholders, como uma fonte de vantagem competitiva. Cada vez mais a utilização de megadados (de big data) pelos clubes lhes permite extrair insights para melhorar o desempenho, prevenir lesões, prever o rendimento duma eventual contratação e aumentar a sua eficiência comercial. Contudo, a extração da informação e a sistematização dos conhecimentos não é ainda tarefa simples e acessível a todos. Por isso, ferramentas de suporte e processos criativos associados a esta tarefa são hoje frequentemente utilizadas. É o caso dos videojogos de simulação real. Um deles é o Football Manager (FM) que se tornou conhecido não só pela experiência imersiva de comandar uma equipa como treinador, como também pela sua utilização no acesso a dados para ajudar na análise e nas transferências. Depois do Everton assinar um acordo para usar a base de dados do FM para explorar novos talentos e de Solskjaer partilhar que o FM foi importante na preparação para a sua carreira de treinador, na época passada foi também Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, que admitiu que utilizava o jogo para ver as características dos jogadores que a estrutura do Palmeiras lhe propunha (na vertente mental, técnica e física). Alguns clubes chegaram mesmo a contratar para a estrutura técnica especialistas do jogo. Por exemplo, em 2019, Andrej Pavlović, de 22 anos, recebeu uma oferta de emprego como analista de dados num clube da Sérvia depois de lhes ter enviado uma lista das conquistas notáveis que tinha alcançado no jogo ao fim de 16 épocas virtuais. De facto, o scouting é cada vez mais determinante para a estratégia de um clube. Os videojogos, dados de casas de apostas (bookmakers) e outras ferramentas e processos de data analytics proporcionam o acesso facilitado a informação de jogadores e equipas de ligas profissionais, mas também de ligas inferiores não profissionais (aos quais nem todos os clubes podem enviar os seus próprios olheiros ou desenvolver contactos) e são vistos cada vez mais como de grande utilidade.