O Jogo

ATÉ FOI PRECISO INVENTAR UNS PROBLEMAS

SUPERIORID­ADE Os checos não tiveram a amabilidad­e de jogar abertos, como os suíços, mas a Seleção soube encontrar uma frincha. Depois, talvez se tenha aborrecido

- Textos JOSÉ MANUEL RIBEIRO

Faltaram golos na segunda parte para completar o desempenho português e foram dadas algumas abébias aos checos. Fora isso, Portugal comanda o grupo, dois pontos à frente da Espanha.

O Portugal-Chéquia (ou República Checa se o termo fizer cócegas no céu da boca) não pôs ninguém a babar-se, como o Portugal-Suíça, mas o extraordin­ário é que até podia. Muito mais recuados e defensivos do que os suíços, os checos obrigaram a Seleção de Fernando Santos – outra vez modificada – a experiment­ar todas as chaves do chaveiro até Bernardo Silva encontrar a frincha por onde lançar João Cancelo para o primeiro golo e, depois, Gonçalo Guedes para o segundo. O resto foram golos perdidos por falta de pequenas afinações e uma mão cheia de ataques checos, todos eles criados por erros portuguese­s. No global, um jogo aceitável e um justo primeiro lugar no grupo 2 da I Divisão da Liga das Nações.

Santos devolveu a baliza a Diogo Costa, trocou Nuno Mendes por Raphael Guerreiro, Bruno Fernandes por Gonçalo Guedes e Otávio por Bernardo Silva. Manteve a parceria Rúben Neves/William no meio-campo. Uma análise superficia­l dirá que, enquanto dupla, não varreram os checos como tinham varrido os suíços. Uma análise apenas ligeiramen­te menos superficia­l repara que a abundância de espaço do jogo da semana passada não se compara as linhas recuadas da Chéquia. Ainda assim, e se pensarmos que Rúben Neves está numa espécie de casting pela vaga, ele conseguiu ganhar alguns pontos. Houve menos hipóteses para lançamento­s em profundida­de, mas, em contrapart­ida, várias chances para rápidas mudanças de flanco, essenciais para deslocaliz­ar adversário­s tão fechados. Já William, com um muro à frente, não pôde destacar-se na condução de bola, como antes, e por isso terá de ficar à mercê de analistas menos preguiçoso­s.

Portugal fez tudo o que devia na primeira parte. Picou várias zonas da muralha checa, encontrou os pontos fracos, insistiu neles e marcou duas vezes. Até no que permitiu ao adversário, nesses 45 minutos iniciais, foi bastante competente. Tirando um contra-ataque (30’) resolvido por Diogo Costa, a Seleção pôde jogar com tranquilid­ade nos trinta metros finais praticamen­te todo esse tempo e com o bónus de se ter, desta vez, adaptado bem ao físico e constante procura do choque pela outra equipa. A constante, entre Suíça e Chéquia, foi João Cancelo, que atingiu esta época um duplo nirvana futebolíst­ico, ao nível do pulmão (de pôr invejoso um trepador colombiano da Volta a França) e do critério, mas voltaram a ser várias as notas altas na Seleção, também porque a superior organizaçã­o da equipa, neste momento, as favorece.

Se quisermos ver um jogo como hora e meia de pequenos objetivos para cumprir, a segunda parte, essa sim, desiludiu. O primeiro deles tinha de ser marcar mais golos, porque nalgum momento a Chéquia abriria essa porta. O segundo era manter o rigor e conceder o mínimo indispensá­vel ao adversário. Sem que o domínio do jogo, ou mesmo o resultado, tivessem estado em causa, o facto é que nenhum dos dois propósitos foi atingido. O guarda-redes Stanek reserva alguns dos créditos pelo primeiro, e jogadores como Bernardo Silva e Rúben Neves, cujos lapsos (muito raros neles) estiveram na origem direta de duas oportunida­des checas, ficam com os (pequenos) descrédito­s pelo segundo. No global, um jogo prometedor, com intérprete­s diferentes, que multiplica os rostos da equipa à disposição de Fernando Santos.

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Bruno Fernandes rendeu William Carvalho aos 68’
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