ATÉ FOI PRECISO INVENTAR UNS PROBLEMAS
SUPERIORIDADE Os checos não tiveram a amabilidade de jogar abertos, como os suíços, mas a Seleção soube encontrar uma frincha. Depois, talvez se tenha aborrecido
Faltaram golos na segunda parte para completar o desempenho português e foram dadas algumas abébias aos checos. Fora isso, Portugal comanda o grupo, dois pontos à frente da Espanha.
O Portugal-Chéquia (ou República Checa se o termo fizer cócegas no céu da boca) não pôs ninguém a babar-se, como o Portugal-Suíça, mas o extraordinário é que até podia. Muito mais recuados e defensivos do que os suíços, os checos obrigaram a Seleção de Fernando Santos – outra vez modificada – a experimentar todas as chaves do chaveiro até Bernardo Silva encontrar a frincha por onde lançar João Cancelo para o primeiro golo e, depois, Gonçalo Guedes para o segundo. O resto foram golos perdidos por falta de pequenas afinações e uma mão cheia de ataques checos, todos eles criados por erros portugueses. No global, um jogo aceitável e um justo primeiro lugar no grupo 2 da I Divisão da Liga das Nações.
Santos devolveu a baliza a Diogo Costa, trocou Nuno Mendes por Raphael Guerreiro, Bruno Fernandes por Gonçalo Guedes e Otávio por Bernardo Silva. Manteve a parceria Rúben Neves/William no meio-campo. Uma análise superficial dirá que, enquanto dupla, não varreram os checos como tinham varrido os suíços. Uma análise apenas ligeiramente menos superficial repara que a abundância de espaço do jogo da semana passada não se compara as linhas recuadas da Chéquia. Ainda assim, e se pensarmos que Rúben Neves está numa espécie de casting pela vaga, ele conseguiu ganhar alguns pontos. Houve menos hipóteses para lançamentos em profundidade, mas, em contrapartida, várias chances para rápidas mudanças de flanco, essenciais para deslocalizar adversários tão fechados. Já William, com um muro à frente, não pôde destacar-se na condução de bola, como antes, e por isso terá de ficar à mercê de analistas menos preguiçosos.
Portugal fez tudo o que devia na primeira parte. Picou várias zonas da muralha checa, encontrou os pontos fracos, insistiu neles e marcou duas vezes. Até no que permitiu ao adversário, nesses 45 minutos iniciais, foi bastante competente. Tirando um contra-ataque (30’) resolvido por Diogo Costa, a Seleção pôde jogar com tranquilidade nos trinta metros finais praticamente todo esse tempo e com o bónus de se ter, desta vez, adaptado bem ao físico e constante procura do choque pela outra equipa. A constante, entre Suíça e Chéquia, foi João Cancelo, que atingiu esta época um duplo nirvana futebolístico, ao nível do pulmão (de pôr invejoso um trepador colombiano da Volta a França) e do critério, mas voltaram a ser várias as notas altas na Seleção, também porque a superior organização da equipa, neste momento, as favorece.
Se quisermos ver um jogo como hora e meia de pequenos objetivos para cumprir, a segunda parte, essa sim, desiludiu. O primeiro deles tinha de ser marcar mais golos, porque nalgum momento a Chéquia abriria essa porta. O segundo era manter o rigor e conceder o mínimo indispensável ao adversário. Sem que o domínio do jogo, ou mesmo o resultado, tivessem estado em causa, o facto é que nenhum dos dois propósitos foi atingido. O guarda-redes Stanek reserva alguns dos créditos pelo primeiro, e jogadores como Bernardo Silva e Rúben Neves, cujos lapsos (muito raros neles) estiveram na origem direta de duas oportunidades checas, ficam com os (pequenos) descréditos pelo segundo. No global, um jogo prometedor, com intérpretes diferentes, que multiplica os rostos da equipa à disposição de Fernando Santos.