Ganhar à Chéquia vale duas Suíças
Depois da Espanha, o festival com a Suíça passou por ser o da reconciliação com Fernando Santos, mas isso só provou que as críticas são mesmo superficiais
Quatro jogos e oito meses depois do apocalipse, Fernando Santos esvaziou as certezas de que Portugal tinha um selecionador fora do prazo. Fê-lo definitivamente ao jogo 99 da sua passagem pela FPF, com a Suíça, mas devia ter sido ao jogo 100, ontem à noite. A rendição (temporária, claro) dos críticos depois daquele 4-0 é o destapar de muitas carecas. Podíamos falar da lenda dos dois trincos, que atazanou o Euro’2020 (a única diferença para domingo é que um dos dois médios defensivos era Rúben Neves, em vez de Danilo), mas isso levarnos-ia a um debate estilístico sobre as habilitações de cada um dos jogadores em causa. Também podíamos falar de Santos ter abdicado do inabdicável Bernardo Silva, mas deduzo que Otávio seja entendido como equivalente. O essencial é que, no jogo com a Suíça, a Seleção só teve de esperar e contra-atacar. Os suíços fizeram metade do trabalho. Se todos os adversários se dispusessem daquela forma, incluindo Franças e Alemanhas, Portugal seria, provavelmente, campeão do mundo, até com selecionadores menos serenos ao volante. Os aplausos por aquele jogo são, até certo ponto, inócuos. A diferença entre a Suíça e a Chéquia (e, por regra, todas as outras seleções) é que os checos sabiam o que enfrentavam, e jogaram em conformidade. A Seleção teve de puxar pela cabeça ontem, não no domingo, para contornar duas linhas cerradas e manter, em simultâneo, as costas cobertas. Valorizo mais os golos falhados com a Chéquia do que os marcados à Suíça, embora a definição final seja a mesma: em ambos os casos, Portugal resolveu o problema que tinha a resolver. Como quase sempre nos 100 jogos de Fernando Santos, mais trinco, menos trinco.