O INFERNO DO PAVÉ CHAMA-SE POGACAR
A Volta a França foi ao empedrado e o bicampeão isolou-se e ganhou tempo. Van Aert segurou a amarela e salvou os outros favoritos
Corredor da UAE chegou a ter um minuto para Vingegaard e Thomas, mas só lhes tirou 13 segundos devido ao trabalho do camisola amarela. Roglic caiu, recolocou o ombro no sítio e perdeu 2 minutos.
“Foi duro e temia tudo aquilo que não me aconteceu”
FREDERICO BÁRTOLO
A Volta a França começou ontem a decidir-se na quinta etapa, com passagem pelo norte e pelos troços das clássicas do empedrado. E foi de novo Tadej Pogacar a fazer a vida num inferno aos rivais. O bicampeão não precisou que a UAE Emirates lhe abrisse o caminho pelos 11 troços de pavé, que perfizeram 20 km de empedrado, e foi correndo na frente entre os rivais, sempre protegido das quedas. Quando percebeu que Primoz Roglic e Jonas Vingegaard, da Jumbo, e Geraint Thomas, da Ineos, tinham ficado para trás, acelerou mais ainda, seguindo Jasper Stuyven, da Trek, e fugindo.
O esloveno chegou a ter um minuto de avanço para os candidatos ao pódio, mas a Jumbo lá recuperou Vingegaard, que perdeu mais de um minuto só em trocas de bicicleta, e colocou todos a perseguir Pogacar. Wout Van Aert, camisola amarela, moveu uma caça ao homem para minimizar os estragos, comandando o seu grupo nos15kmfinais,jáquandoopó não influenciava a visão dos corredores. Foi de tal modo efetivo o trabalho do belga que salvou a classificação geral para a larga maioria de favoritos: terminaram a apenas 13 segundosdePogacar,beneficiando do cansaço evidente do esloveno nos últimos 10 km.
Thomas, Daniel Martínez, Adam Yates (Ineos), Fuglsang (Israel), Quintana (Arkéa), Mas (Movistar), Bardet (AG2R), Vlasov (Bora), Gaudu (FDJ) e Caruso (Bahrain) podem agradecer a Van Aert e aos restantes Jumbo, que se uniram na proteção de Vingegaard, por terem chegado à meta em condições de sonhar com o top-5.
Jack Haig (Bahrain) caiu e abandonou,masomaiordosrivais de Pogacar foi o derrotado do dia. Primoz Roglic, tricampeão da Vuelta, segundo na geral do Tour’2020 e que abandonou por queda em 2021, voltou a ir ao chão. O insólito foi o que o se viu depois: o ciclista da Jumbo pediu uma cadeira a um fã que estava na berma da estrada, para se sentar e colocar no sítio o ombro que acabara de deslocar! Manobras dos saltos de esqui, certamente. “Estou feliz por poder continuar. Tive de me sentar por um momento para colocar o ombro no sítio. Foi muito doloroso, mas eu sei, por experiência, como agir nessa situação”, explicou, sentindo orgulho por ter terminado ‘apenas’ 2m08s depois de Pogacar.
Na frente, a fuga do dia resistiu até ao fim. Simon Clarke deu a primeira vitória de sempre ao projeto da Israel no Tour, batendo Van der Hoorn (Intermarché-Wanty) e Boasson Hagen (Total) no sprint. Neilson Powless foi quarto e ficou a 13 segundos de vestir a camisola amarela. “Temia todas as coisas que não me aconteceram”, disse o sempre irreverente Tadej Pogacar, que ao contrário dos adversários não caiu, não avariou, nem furou. “A equipa ajudou-me na primeira parte, antes do empedrado”, elogiou, não abordando o facto de depois ter de fazer sozinho pela vida. “Foi um dia muito duro. Tivemos de pedalar com força, porque o empedrado estava com pó e perigoso. Estou simplesmente feliz por esta etapa ter acabado. No final, foi muito bom para mim e para a equipa”, rematou, depois de ter ganho tempo a todos os adversários. “Dei o meu melhor seguindo o Stuyven”, disse sobre a fuga que o deixou em vantagem, prometendo “pagar uma cerveja” ao belga da Trek.
“Era um dia em que pretendíamos ficar em segurança e defender-nos. Se conseguimos mais, só o posso achar positivo” Tadej Pogacar UAE Team Emirates