O anti-herói e a lenda por um lugar na final
Kyrgios, novo semifinalista no Grand Slam, desafia Nadal, perto da dobradinha Roland Garros-Wimbledon e do 23.º major
Como é hábito, o Grand Slam inglês está a ser um esplendor na relva. Após o apuramento de Djokovic, em cinco sets, para as meiasfinais, Rafa seguiu ontem esse duro caminho, mas esteve quase a desistir. Agora encontrará o “mago”.
MANUEL PÉREZ
A quatro dias do encerramento da 135.ª edição, e 100.ª desde a mudança de local e inauguração do Centre Court, o torneio de Wimbledon volta a colocar à flor da relva a imagem de marca: o prestígio. Dentro deste, estão os obreiros de quatro extraordinários encontros dos quartos de final. Se na véspera foi Novak Djokovic a virar de dois sets abaixo para bater Jannik Sinner, e Cameron Norrie também venceu David Goffin em cinco sets, ontem viu-se, finalmente, Nick Kyrgios chegar à penúltima ronda de um Grand Slam. Pouco depois, ficou a saber que Rafael Nadal esteve quase a abandonar a contenda ante Taylor Fritz, cuja reta final já pôde acompanhar, para ver selado mais um estrondoso triunfo do espanhol: 3-6, 7-5, 3-6, 7-5 e 7-6 (10/4).
A meio do segundo set, o recordista de títulos (22) do Grand Slam pediu assistência médica por um problema abdominal e, do seu camarote, o pai Sebastián, a irmã María Isabel e o agente Carlos Costa usavam sinalética pedindo a Nadal para desistir. Mas, tal como aconteceu nos quartos de final do Open da Austrália de 2011, quando o tio/treinador Toni lhe indicou o mesmo caminho, Rafa não atirou a toalha. “Senti que algo estava mal na zona abdominal e por várias vezes pensei que não estava preparado para acabar o encontro, mas, com a energia que transmite este court, consegui seguir em frente”, disse no final.
Nick Kyrgios é o “pior” adversário que poderia calhar ao maiorquino – e este diz que a lesão implicará mudanças no golpe de serviço –, visto possuir um jogo imprevisível, cuja eficácia depende muitas vezes da disponibilidade mental. Até agora, com um ou outro arrufo e uma multa, tem as peças bem encaixadas, como ficou expresso na vitória, 6-4, 3-6 e 7-6 (7/5), sobre o chileno Cristian Garin.
O australiano de 27 anos, apesar de gostar de esconder (algumas) emoções, ainda estava algo estupefacto, quando se aproximou do microfone e afirmou para a plateia: “Nunca pensei que estaria na meia-final de um Grand Slam. Aliás, pensava que o meu barco já tinha partido. Não abordei certas coisas no início da minha carreira com a necessária grandeza e talvez tenha perdido algum tempo”. Nunca é tarde para o “bad boy” prosseguir o desafio de mostrar que pode estar ao nível dos melhores profissionais, mesmo tendo abdicado de um treinador. “Não daria a ninguém um fardo desses”, atirou o carismático atleta de origens gregas e malaias.
“Temos personalidades muito diferentes, sei que há muito respeito entre nós e será o jogo que todos querem ver” Nick Kyrgios Número 40 do ranking ATP