Futebol no Metaverso. O futuro?
Desafio o leitor a pensar nos locais onde habitualmente vê um jogo de futebol. Decerto que “estádio” ou “casa” terão sido os primeiros locais a surgir-lhe. Contudo, o cenário que lhe proponho é bastante diferente. Num futuro próximo, poderá ver um jogo no Metaverso, uma rede de ambientes virtuais que disponibilizam realidades tecnológicas alternativas e que combinam diferentes aspetos do mundo digital e físico, sendo possível jogar, socializar ou até mesmo trabalhar. Segundo a Bloomberg Intelligence, é expectável que o mercado global do Metaverso alcance o valor de 800 mil milhões de dólares em 2024.
Recentemente, em maio de 2022, o AC Milan recebeu a Fiorentina no primeiro jogo alguma vez transmitido no Metaverso, com cerca de 10 mil adeptos a assistirem. Outros clubes têm desenvolvido novas capacidades, como, o Manchester City, que, em parceria com a Sony, está a replicar o Etihad Stadium com o objetivo de criar uma comunidade global que interaja dentro de uma representação virtual do estádio, o Birmingham City, que também está a replicar o seu estádio, ou até a LaLiga, que está a criar novos espaços que permitirão viver experiências virtuais.
Como qualquer inovação disruptiva, existem vantagens e desvantagens associadas. As vantagens estão maioritariamente ligadas à criação de novas fontes de receita e à melhoria da experiência do adepto. A transmissão de jogos no Metaverso permite não só a monetização de uma base de adeptos global e a oferta de um estádio com capacidade ilimitada, mas também permite desenvolver novos direitos comerciais e propriedades intelectuais virtuais, criando novas fontes de receita. Por outro lado, existem desvantagens. Segundo o Gaming Industry Survey 2022 realizado pela EY, os NFTs (Non-fungible Tokens) são o pilar das economias do Metaverso dado funcionarem como certificados de propriedade existente no mundo virtual. Posto isto, grandes variações no mercado dos NFTs, como a que se verificou recentemente (as vendas de NFTs passaram de 13 mil milhões de dólares em janeiro para mil milhões em junho), poderão ter impacto, afetando rapidamente os clubes.
Em Portugal, também vão surgindo as primeiras iniciativas. O FC Porto, recentemente, assinou uma parceria com a Upland com vista a oferecer experiências no Metaverso (não estando ainda disponível a visualização de jogos). Por sua vez, o SL Benfica, em parceria com a NOS, desenvolveu um projeto tecnológico com o objetivo de transformar o estádio da Luz em um “estádio 5G” e disponibilizar uma experiência imersiva com recurso à realidade virtual.
O Metaverso está ainda em fase de desenvolvimento, mas o futebol e os seus stakeholders parecem recetivos a esta nova realidade. Importa, contudo, assinalar que é fundamental entender não só as oportunidades associadas, mas também os fatores críticos de sucesso associados à sua implementação. A chave do sucesso do Metaverso no futebol não estará apenas na disponibilização da tecnologia, mas também na estratégia de comunicação e no processo de preparação dos utilizadores para que a experiência seja otimizada, estimulando a recorrência e previsibilidade da sua utilização.