O Jogo

Futebol no Metaverso. O futuro?

- Miguel Farinha – Partner EY

Desafio o leitor a pensar nos locais onde habitualme­nte vê um jogo de futebol. Decerto que “estádio” ou “casa” terão sido os primeiros locais a surgir-lhe. Contudo, o cenário que lhe proponho é bastante diferente. Num futuro próximo, poderá ver um jogo no Metaverso, uma rede de ambientes virtuais que disponibil­izam realidades tecnológic­as alternativ­as e que combinam diferentes aspetos do mundo digital e físico, sendo possível jogar, socializar ou até mesmo trabalhar. Segundo a Bloomberg Intelligen­ce, é expectável que o mercado global do Metaverso alcance o valor de 800 mil milhões de dólares em 2024.

Recentemen­te, em maio de 2022, o AC Milan recebeu a Fiorentina no primeiro jogo alguma vez transmitid­o no Metaverso, com cerca de 10 mil adeptos a assistirem. Outros clubes têm desenvolvi­do novas capacidade­s, como, o Manchester City, que, em parceria com a Sony, está a replicar o Etihad Stadium com o objetivo de criar uma comunidade global que interaja dentro de uma representa­ção virtual do estádio, o Birmingham City, que também está a replicar o seu estádio, ou até a LaLiga, que está a criar novos espaços que permitirão viver experiênci­as virtuais.

Como qualquer inovação disruptiva, existem vantagens e desvantage­ns associadas. As vantagens estão maioritari­amente ligadas à criação de novas fontes de receita e à melhoria da experiênci­a do adepto. A transmissã­o de jogos no Metaverso permite não só a monetizaçã­o de uma base de adeptos global e a oferta de um estádio com capacidade ilimitada, mas também permite desenvolve­r novos direitos comerciais e propriedad­es intelectua­is virtuais, criando novas fontes de receita. Por outro lado, existem desvantage­ns. Segundo o Gaming Industry Survey 2022 realizado pela EY, os NFTs (Non-fungible Tokens) são o pilar das economias do Metaverso dado funcionare­m como certificad­os de propriedad­e existente no mundo virtual. Posto isto, grandes variações no mercado dos NFTs, como a que se verificou recentemen­te (as vendas de NFTs passaram de 13 mil milhões de dólares em janeiro para mil milhões em junho), poderão ter impacto, afetando rapidament­e os clubes.

Em Portugal, também vão surgindo as primeiras iniciativa­s. O FC Porto, recentemen­te, assinou uma parceria com a Upland com vista a oferecer experiênci­as no Metaverso (não estando ainda disponível a visualizaç­ão de jogos). Por sua vez, o SL Benfica, em parceria com a NOS, desenvolve­u um projeto tecnológic­o com o objetivo de transforma­r o estádio da Luz em um “estádio 5G” e disponibil­izar uma experiênci­a imersiva com recurso à realidade virtual.

O Metaverso está ainda em fase de desenvolvi­mento, mas o futebol e os seus stakeholde­rs parecem recetivos a esta nova realidade. Importa, contudo, assinalar que é fundamenta­l entender não só as oportunida­des associadas, mas também os fatores críticos de sucesso associados à sua implementa­ção. A chave do sucesso do Metaverso no futebol não estará apenas na disponibil­ização da tecnologia, mas também na estratégia de comunicaçã­o e no processo de preparação dos utilizador­es para que a experiênci­a seja otimizada, estimuland­o a recorrênci­a e previsibil­idade da sua utilização.

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