O Jogo

O futebol não pára mas é de desaprende­r

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Um dos meus mitos favoritos é o do peixinho de aquário, cuja memória era suposto durar só dois segundos. Aplacava-me o sentimento de culpa pensar que a vida daquela criatura era uma novidade permanente, a cada volta que dava numa caixa de vidro de 40 centímetro­s por 20. A ciência já desfez essa lenda caridosa, mas ainda está por investigar a memória da fauna do futebol português, que pode bem ser o verdadeiro peixinho de aquário do mito. Como é possível que, a cada ano, volte a ser tema na praça pública se o calendário deve, ou não, proteger as equipas que correm na Europa? As regras mudaram e voltaram a mudar várias vezes, houve consensos para tudo e o seu contrário, e ainda assim a discussão regressa sempre, com pontualida­de suíça, como se não tivesse havido nada para trás, como se não tivesse existido um debate e as pessoas não tivessem concluído que sim, interessa a todos que a Liga se saia bem no ranking da UEFA e que mais equipas portuguesa­s possam aceder a essa receita. Foi assim que, há um par de anos, o revolucion­ário G15 anulou à proteção aos participan­tes nas taças internacio­nais, apenas para depois reverter, por unanimidad­e, a indignação pelo “favorecime­nto” aos grandes. A Liga, e Pedro Proença, lançaram uma série de medidas e ideias novas neste pontapé de saída, talvez demasiadas para a capacidade de concentraç­ão dos peixinhos, mas ainda falta uma: é essencial aprender, até por piedade para com os infelizes que carregam o fardo de não ter memória de aquário e são obrigados a ler e ouvir sempre a mesma lengalenga.

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