O Jogo

Mais mérito do Braga do que falhas do Sporting

- António Barroso

Não há nada mais subjetivo do que a dicotomia entre mérito e demérito. Eu sou pelos que recuperam, sobretudo quando o fazem três vezes seguidas.

Oóbvio: uma bola que bate na trave, um desvio miraculoso ou um desacerto de baliza aberta são, no final dos 306 jogos do campeonato de 2022/23, motivos mais do que suficiente­s para me fazerem engolir quaisquer palavras hoje registadas lá para maio do próximo ano. Mas vou arriscar: este Braga é bem capaz de voltar a imiscuir-se nas já entediante­s campanhas dos chamados três grandes na corrida ao título, algo que, em abono da verdade, apenas aconteceu há 12 épocas. Apesar do quarto lugar em sete das últimas 12 edições da Liga e de dois terceiros (2011/12 e 2019/20), facto é que apenas em 2009/10, comandados por Domingos Paciência, os Guerreiros morderam os calcanhare­s até final ao então campeão: um título perdido por cinco pontos para o Benfica. Pois bem, com a estabilida­de governativ­a que António Salvador oferece, ao que acrescenta uma gestão de plantel equilibrad­a há já muitos anos e uma academia com rebentos como Vitinha, Francisco Moura, Roger e Rodrigo Gomes, entre outros, percebe-se que não foi o Sporting que se deixou travar por três vezes num único jogo. Houve muito mérito e trabalho na tripla reação minhota, que anulou a vantagem leonina outras tantas vezes. Ao contrário da opinião massiva difundida por vias hertzianas, raios catódicos e formatos digitais, sou dos que dá mais mérito ao que recupera do que demérito ao que se deixa empatar. Isto é um jogo, não é um cliché meritocrát­ico da moda, dos tais em que pesam mais as expectativ­as que atribuem estatutos pouco dignifican­tes para o futebol ou para qualquer competição sã e íntegra. Posto isto, e continuand­o no óbvio, importa olhar para as goleadas de FC Porto e Benfica. Os primeiros a imporem processos com boa memória, os segundos com um modo refrescant­e de estar em campo, sem esperar pelo respeito que o tal estatuto muitas vezes reclamado, o tal que é sempre pernicioso para a quantidade de belíssimos e bravíssimo­s jogadores que pela Luz se têm exibido. O que impõe respeito é a qualidade de futebolist­as como David Neres, Enzo Fernández e Bah (bem-vindos ao futebol português, não se deixem iludir).

Isto é um jogo, não é um cliché meritocrát­ico da moda, onde pesam mais os estatutos

De resto, bom arranque do Vizela, com uma vitória no terreno do Rio Ave, uma boa partida do Casa Pia, que arrancou um ponto nos Açores, e nota para os triunfos forasteiro­s de Boavista em Portimão e de Vitória de Guimarães em Chaves. Claro que a análise de uma primeira jornada pouco mais é do que somar notas que, lá mais para a frente, nem terão importânci­a: velhos hábitos como tentar enganar o árbitro e simular penálti, árbitros com critérios diferentes para jogadas idênticas, nervos a mais nos bancos... Mais do mesmo, dirão. Mas, afinal, não é disto que o

Povo gosta? Só é pena que precise.

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