A mulher de César não aparece
Sempre considerei que a atuação das autoridades deve ser irrepreensível, por ser sua obrigação dar um exemplo à sociedade. A Justiça portuguesa tem estado demasiado vezes longe do exemplar, mas quando surgiu a operação “Prova limpa”, pelos meios invulgares que envolveu, fiquei com a esperança de que devolvesse a credibilidade ao ciclismo português – para o bem ou para o mal –, muito abalada há demasiados anos a nível internacional. Ando cansado de ler brincadeiras sobre os “megawatts” dos corredores da Grandíssima, uma mentira contada demasiadas vezes. Os estrangeiros levam tareias em Portugal porque são fracos e chegam mal preparados, enquanto entre os corredores nacionais há gente de qualidade e no pico de forma. Mas voltemos ao essencial, as ações da PJ e da AdoP. A primeira nunca divulgou o que apreendeu nas buscas aos ciclistas da W52-FC Porto, mas foi deixando constar que teria bolsas de sangue e medicamentos que pintavam um quadro muito grave, para fazer mais revistas na véspera do arranque da Volta a Portugal, uma delas, ao que ouvi, tendo só por base uma denúncia. A Autoridade Antidopagem também foi passando informações em “off ”, contraditórias com a sua atuação: se o caso era assim grave, qual a necessidade de pedir explicações aos corredores sobre o que estava na sua posse? Ou de lhes fazer controlos quase diários? Em contrapartida, só existiu controlo antidoping numa das provas dos Campeonatos Nacionais e a Volta a Portugal está a terminar não existindo mais do que as recolhas de urina previstas por lei. A mulher de César anda desaparecida e com ela as esperanças de credibilidade restaurada. estas linhas não são uma achega aos resultados da Volta; eles são os mesmos de 2021, se retirarmos a W52-FC Porto e dois bons estrangeiros.