O Jogo

Quando o poder da mente ultrapassa o físico

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Um último minuto que mostrou o poder da mente de João Mário. Num jogo em que a equipa do Benfica sentiu o desgaste da fórmula física para jogar, tinha de ser através de outras armas, aquelas que pensam mais do que correm, a desbloquea­r um jogo que, pelos contornos em que cresceu, parecia impossível de ganhar.

Ao nono jogo, Schmidt forçou o onze-base a esse desafio físico e a rotação de jogo baixou. A posse de bola em câmara lenta, embora com passes bem feitos, denunciava movimentos e intenções, permitindo ao Vizela entrar no jogo com serenidade e sempre com tempo para se organizar atrás da linha bola em bloco baixo. Não acredito em modelos de jogo que se definam pela caracterís­tica física por si própria (nem este Benfica deu essa sensação nos jogos anteriores, apesar das sereias da intensidad­e), mas todos dependem desse fator para se expressare­m.

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Confrontad­o com a realidade tática de explosão demográfic­a defensiva típica do duelo equipa grande-equipa pequena do nosso campeonato, foi o primeiro jogo que Schmidt teve também de jogar no desde o banco durante o jogo. Não bastava só o plano inicial habitual. Demorou muito a perceber a necessidad­e de meter o segundo ponta-delança (quando Musa entrou para junto de Ramos e fez o 4x4x2 com Rafa na ala esquerda e Neres na direita), tal como em render-se a que, por muito que suba esforçado, a falta de critério de definição (cruzamento/passe) de Gilberto condena quase todas as jogadaspro­messas de golo pelo seu lado (quando entrou Bah sentiu-se, mesmo em pouco tempo, outra coisa). Salvou-se pelo génio (Neres) e a frieza (João Mário, que acabou cérebro a n.º8).

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Pedro Gonçalves voltou ao seu lugar de avançado e soltou até pequenos chapéus a adversário­s, riu-se para eles e como é também o melhor rematador do Sporting, também tentou marcar.

A ideia de o colocar a n.º 8 retira-o do seu melhor lugar. Pode até, quando Paulinho voltar, ser um terceiro médio a espaços a vir pegar atrás, mas enquanto isso não acontece tem de ser ele a fazer de principal ameaça de “falso 9”, mesmo vindo desde a meia-esquerda dentro dum trio rotativo ofensivo, no qual Trincão é o mais fixo da direita para a esquerda e Edwards o “soneca vagabundo” que joga e marca em chuteiras de lã. A equipa não fez um jogo diferente dos anteriores. Voltou até a cometer os mesmos erros defensivos (coletivos e individuai­s) mas desta vez as relações causa-efeito foram diferentes.

É difícil imaginar a equipa a jogar de forma diferente, apesar do que se sente precisar de fazer nesse sentido. Ou seja, uma coisa são as suas convicções de jogo, outra são as variantes de sistema e princípios de jogo dentro deles que podem surgir. A capacidade de modelar o modelo. Um cresciment­o das convicções em especifici­dade.*

Quando a velocidade de jogo baixa, sobe o poder da mente

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Neres e Bah festejam o golo do empate do Benfica, marcado pelo brasileiro

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