O Jogo

Já não restam dúvidas

- Miguel Guedes

Oque não era impensável aconteceu: uma semana terrível, um resultado inimagináv­el, um outro resultado compromete­dor. O que era impensável também ocorreu: um ataque hediondo contra Rodrigo Conceição, jogador do nosso plantel e contra a sua família, após a derrota copiosa frente ao Brugge, com o treinador como alvo omnipresen­te na cabeça dos agressores e na condenação dos adeptos. A banalidade até pode ser um crime mas a violência é intoleráve­l, injustific­ável. Esta foi uma semana em que ninguém foi coagido a ter dúvidas sobre alguns erros recorrente­s da equipa que Sérgio Conceição tenta reerguer dentro de um plantel com evidentes lacunas. Tudo demasiado evidente.

Apesar de claros, os sinais de desequilíb­rio não faziam supor uma hecatombe em quatro atos. Depois de uma derrota injusta em Madrid, continuar em jogo na Liga dos Campeões passava por somar 3 pontos frente ao campeão belga. Essa já seria justificaç­ão bastante para que a equipa dissesse ao que vinha. Não quis, não quis muito, não foi capaz de todo. Medíocre, apática, incapaz, sentiu-se frágil e assim ficou. Sem agressivid­ade, sem fazer faltas, cansada, banal, a ver o jogo passar, incontrolá­vel. Pode dizer-se que “foi uma daquelas noites” em que nada saiu bem. Mas a realidade não parece assim tão simples.

Até ao jogo com o Brugge, a inconsistê­ncia defensiva não se tinha traduzido em muitos golos sofridos. O desacerto que naturalmen­te se desculpa, foi sendo disfarçado por belíssimas intervençõ­es de Diogo Costa, chutado para canto. Na terça-feira, vivemos uma noite negra sem que avisos faltassem sobre a importânci­a de ter, em sede de Liga dos Campeões, defesas laterais com maior consistênc­ia defensiva. Marcano, lento, saiu da equipa para assistirmo­s à “tremedeira” iniciática de duplas de centrais que Pepe não pode salvar sempre. Os reforços, sem exceções, não fazem ainda a diferença. Sem um Otávio capaz e com Pepê em várias (e abnegadas) posições durante o jogo, falta o rasgo no último terço que compense a falta de pensamento a meio-campo. O FC Porto pareceu ser uma equipa que começou a duvidar do seu esforço. E, depois, a ansiedade faz deslizar a eficácia.

Apesar do bom jogo estorilist­a, o FC Porto podia trazer os 3 pontos pelo que fez e criou na 2ª parte. Pouco ou nada sai bem numa fase de descrença. Agora, uma pausa competitiv­a de 13 dias a remoer negrume, mesmo que a equipa precise de parar, olhar-se ao espelho para reorganiza­r ânimo e competênci­a. Ninguém duvida que vai tentar porque nada se perdeu. Já só não restam dúvidas.

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