Antecipar presentes
Éunânime a ideia de que há uma cronologia antes do Mundial e outra, a de futuro incerto, que se escreve depois dele. Para as seleções, esse é um traço evidente e que decorre dos factos. Como em Las Vegas, casa de jogo, o que acontece no Catar fica sempre no Catar. Também assim é para jogadores ou selecionadores em final de carreira ou muito abaixo das expectativas. Para os clubes, é uma nova e inteira divisão de águas. Chegados a Dezembro, e como se o mercado de Inverno não fosse angústia suficiente para afogar mágoas eventuais do futebol português (por necessidade, sempre mais vendedor do que comprador), o regresso pós-Mundial inventa novas dúvidas e, perante a semi-pausa competitiva fora de época, só assegura o pouco que ficará como dantes. Sendo pouco crível que os clubes tenham atirado ao lixo todo o trabalho desenvolvido, também será um milagre que não se ocupem em aferir se os que regressam realmente voltam em sintonia e à procura do reencaixe perfeito no grupo. Se a Taça da Liga serviu para manter os mínimos competitivos em alta, também permitiu retirar algumas ilações que podem ser premonições. Depois de 3 jogos a ganhar na fase de grupos, a inexistência competitiva do Braga na primeira parte em Alvalade é preocupante para os arsenalistas e não pode, com cinco golos sofridos em 45 minutos, ser explicada apenas por uma má entrada em jogo ou desconcentração competitiva. O jogo com o Benfica para a Liga está à porta. O Sporting continua o caminho da reabilitação, sendo que afastado de qualquer título, tem mesmo que apostar cartas na Taça da Liga. Com três goleadas (contra o Farense, Marítimo e Braga) em quatro jogos, sem sofrerem golos, os leões parecem ter reencontrado a afinação e fiabilidade que tantas vezes lhes faltou desde o início da temporada. Sem derrotas senão num jogo particular frente ao Sevilha, o Benfica cai na Taça da Liga com o empate em Moreira de Cónegos e abandona a ideia de que não há tristeza na era Roger Schmidt. O jogo em Braga será importante para cimentar emoções.
A vida correu diferente para o FC Porto na Taça da Liga, prova onde não passou da fase de grupos na temporada transata. Depois do empate caseiro frente ao Mafra, a equipa deu boas respostas nos três jogos seguintes, marcando seis sem sofrer golos, colocando-se na 1/2 final frente ao surpreendente Ac. Viseu, treinado por Jorge Costa. Mas nenhum dragão confunde prioridades. Quarta-feira recomeça a Liga com a receção ao Arouca e todas as ilusões estão intactas, antecipando presentes. A realidade só requer confirmação.