Decisão de Schmidt com impacto no futuro
Há jogadores que, pelas suas características e influência, conquistam um estatuto que lhes permite estar um nível acima dos demais. Mas poderá esse perfil guindá-los a um plano intocável? Creio que não. E sendo certo que é muito simples criticar as opções de um treinador depois de se conhecer o resultado, também é evidente que as conclusões só podem ser tiradas após os acontecimentos. O Benfica perdeu em Braga com toda a naturalidade. Porque o adversário foi muito melhor durante todo o tempo. Nada resultou na dinâmica dos encarnados. Uma atuação tão pobre implica, forçosamente, um quinhão de responsabilidade do treinador, que começa na utilização de Enzo Fernández. Partindo do princípio que tudo evolui dentro da normalidade, a escolha do onze que entra em campo depende sempre do técnico. Roger Schmidt tinha uma decisão explosiva na construção da estratégia para o regresso ao Campeonato: usar Enzo ou não, era a questão. A opção revelou-se ruinosa para o Benfica. A equipa, ainda com a saída de cena da Taça da Liga presente, voltou a claudicar, caindo com estrondo na “pedreira”, onde conheceu a primeira derrota da temporada. O desaire não pode ser dissociado de uma exibição desastrada do médio argentino. Estranha-se, por isso, que no final do encontro o treinador tenha defendido que Enzo rubricou uma atuação aceitável. Não foi assim. Teve percentagens baixas no passe longo, fartou-se de falhar entregas de bola e esteve muito longe de ser o farol de pressão da equipa. Roger Schmidt tem realizado uma campanha excecional ao serviço do Benfica. O crédito, em poucos meses, é tão grande que surpreende. Mas, como todos os mortais, também se engana. Desta vez esteve mal. Enzo não é o único responsável pela derrota, mas esta passou muito por aquilo que não deu à equipa, quando comparado com o que já fez. Notou-se. Não devia ter jogado e, no mínimo, em função do rendimento, devia ter sido substituído ao intervalo. A questão que agora se coloca é que impacto terá esta derrota na formação encarnada. É impossível calcular. Mas, no caso concreto de Enzo, é admissível dizer que a cabeça e o corpo do jogador não estiveram a 100% em Braga. A possibilidade de sair pode estar a causar desconforto, o que é natural, embora só o médio possa confirmar. Já em relação à questão física, qualquer leigo percebe que as viagens, as festas e a ausência de trabalho de campo diminuem o rendimento. Enzo chegou e treinou-se dois ou três dias, após todos aqueles excessos, compreensíveis em função da festa argentina, que tivemos oportunidade de ver e rever, no Catar e na América do Sul. O que estará, por exemplo, a pensar Chiquinho, substituto natural na posição durante a ausência de Enzo, ao perceber que o treinador confia mais num jogador que praticamente não treinou, depois de um mês e meio fora, do que nele? Com que confiança entrará em campo quando for chamado? Teremos tempo para perceber o impacto desta decisão de Schmidt, até porque a transferência do campeão do Mundo parece estar iminente.
Desaire do Benfica em Braga não pode ser dissociado da exibição desastrada de Enzo Fernández