O Jogo

Decisão de Schmidt com impacto no futuro

- Vítor Santos

Há jogadores que, pelas suas caracterís­ticas e influência, conquistam um estatuto que lhes permite estar um nível acima dos demais. Mas poderá esse perfil guindá-los a um plano intocável? Creio que não. E sendo certo que é muito simples criticar as opções de um treinador depois de se conhecer o resultado, também é evidente que as conclusões só podem ser tiradas após os acontecime­ntos. O Benfica perdeu em Braga com toda a naturalida­de. Porque o adversário foi muito melhor durante todo o tempo. Nada resultou na dinâmica dos encarnados. Uma atuação tão pobre implica, forçosamen­te, um quinhão de responsabi­lidade do treinador, que começa na utilização de Enzo Fernández. Partindo do princípio que tudo evolui dentro da normalidad­e, a escolha do onze que entra em campo depende sempre do técnico. Roger Schmidt tinha uma decisão explosiva na construção da estratégia para o regresso ao Campeonato: usar Enzo ou não, era a questão. A opção revelou-se ruinosa para o Benfica. A equipa, ainda com a saída de cena da Taça da Liga presente, voltou a claudicar, caindo com estrondo na “pedreira”, onde conheceu a primeira derrota da temporada. O desaire não pode ser dissociado de uma exibição desastrada do médio argentino. Estranha-se, por isso, que no final do encontro o treinador tenha defendido que Enzo rubricou uma atuação aceitável. Não foi assim. Teve percentage­ns baixas no passe longo, fartou-se de falhar entregas de bola e esteve muito longe de ser o farol de pressão da equipa. Roger Schmidt tem realizado uma campanha excecional ao serviço do Benfica. O crédito, em poucos meses, é tão grande que surpreende. Mas, como todos os mortais, também se engana. Desta vez esteve mal. Enzo não é o único responsáve­l pela derrota, mas esta passou muito por aquilo que não deu à equipa, quando comparado com o que já fez. Notou-se. Não devia ter jogado e, no mínimo, em função do rendimento, devia ter sido substituíd­o ao intervalo. A questão que agora se coloca é que impacto terá esta derrota na formação encarnada. É impossível calcular. Mas, no caso concreto de Enzo, é admissível dizer que a cabeça e o corpo do jogador não estiveram a 100% em Braga. A possibilid­ade de sair pode estar a causar desconfort­o, o que é natural, embora só o médio possa confirmar. Já em relação à questão física, qualquer leigo percebe que as viagens, as festas e a ausência de trabalho de campo diminuem o rendimento. Enzo chegou e treinou-se dois ou três dias, após todos aqueles excessos, compreensí­veis em função da festa argentina, que tivemos oportunida­de de ver e rever, no Catar e na América do Sul. O que estará, por exemplo, a pensar Chiquinho, substituto natural na posição durante a ausência de Enzo, ao perceber que o treinador confia mais num jogador que praticamen­te não treinou, depois de um mês e meio fora, do que nele? Com que confiança entrará em campo quando for chamado? Teremos tempo para perceber o impacto desta decisão de Schmidt, até porque a transferên­cia do campeão do Mundo parece estar iminente.

Desaire do Benfica em Braga não pode ser dissociado da exibição desastrada de Enzo Fernández

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