“Podíamos ter ido mais longe”
O técnico do Egito lamenta que a Seleção tenha caído com Marrocos, face à qualidade do grupo
Rui Vitória admite, ainda assim, que já não há surpresas no futebol. Evita falar da saída de Fernando Santos, elogiando o legado, e aponta que houve “demasiado barulho” à volta da equipa.
Como viu o desempenho de Portugal e a eliminação nos “quartos”?
—O futebol hoje está muito mais equilibrado. A eliminação de Portugal não surpreende pelo que disse. Mas temos um conjunto de grandes jogadores que está talhado para o sucesso. Foi uma pena não termos conseguido ir mais longe. Perdemos com Marrocos, uma equipa altamente motivada.
Mas, pelo que disse, não fica um sabor amargo?
—Falamos de um conjunto de jogadores de alto nível, dos melhores clubes do mundo e penso que os atletas acreditavam que podiam alcançar algo de extraordinário. Mas os Mundiais decidem-se num jogo. E as outras seleções também possuíam grandes jogadores. Nós tínhamos uma mistura entre a qualidade, o nível a que competem e a faixa etária que indiciava que poderíamos chegar mais longe. Mas Marrocos soube interpretar muito bem o que tinha a fazer, jogou com as suas limitações, com o momento. Aquelas rotinas de vitória que eles adquiriram jogaram a favor deles. Acreditaram que podiam ganhar e nós acabámos por ser, não diria enganados, mas penalizados por isso.
As notícias sobre Ronaldo terão prejudicado o desempenho?
—Não podemos fazer uma relação direta. O que posso dizer, pela minha experiência, é que quando estamos em alta competição, não podemos ir jogar com a mochila muito carregada. Se levarmos muita coisa na mochila estamos a perder energias. Não podemos estar a desgastar-nos com coisas acessórias. Houve demasiados motivos de distração que, se calhar, podem ter contribuído para o desempenho. Não sei se foi assim, mas era fundamental haver uma limpeza de tudo o que podia ser ruído na disputa da competição, era uma responsabilidade de todos.
E aquele episódio de Ronaldo após o jogo com a Coreia do Sul...
—Está na linha do que disse. Não vou entrar em pormenores, mas há uma altura em que tudo o que rodeia a Seleção tem de ser devidamente filtrado.
Quem lhe parece que marcou pontos para os próximos anos?
—O que me custa um pouco é a possibilidade de alguns deles não terem mostrado mais do seu valor. Mas, mesmo com uma classificação que é honrosa, se o objetivo não foi alcançado, ninguém sai a ganhar. Mas houve ali mensagens de que o futuro é promissor, temos um conjunto de jogadores jovens de grande valor, outros numa idade muito madura, não quero aqui dizer A ou B esteve muito bem.
“Houve demasiados motivos de distração”
Fernando Santos saiu. Faz sentido acabar este ciclo depois de um resultado honroso?
—Não vou entrar por aí. São análises subjetivas. O que tem de se dizer é que o Fernando fez um trabalho de enorme qualidade nestes anos, com dois títulos, um Europeu e uma Liga das Nações, que mais ninguém tinha conseguido. E do trabalho dele é isso que tem de ser muito enaltecido.
O nome do Rui é um dos que já foi falado para selecionador. É uma hipótese que consideraria?
—Não vou responder, porque diz-se que o Rui Vitória quer ir ou não quer ir. A questão é: estou num projeto no Egito e esse é que é o meu foco. Não vivo com os “ses”.