“Posso fazer um top-10 no Tour”
Ruben Guerreiro projeta o contrato com a Movistar como uma chance para se reinventar e lutar por etapas e gerais em Grandes Voltas
Aos 28 anos, trepador abre o coração em entrevista a O JOGO. Frontal e corajoso, o natural de Pegões Velhos diz querer aumentar o palmarés e provar que consegue ser um dos melhores do mundo.
FREDERICO BÁRTOLO
Ruben Guerreiro assinou ●●● um contrato de três anos com a Movistar e abriu o coração a O JOGO. Diz que ainda não atingiu o seu pico e que faltou que acreditassem no seu potencial. Olha para as Grandes Voltas com apetite e vai à procura de um palmarés que o deixe na memória dos portugueses.
Assinou três anos pela Movistar. É o contrato mais longo na sua carreira. Dá estabilidade?
—É uma grande estrutura, sempre gostei da Movistar. São espanhóis, pensam de forma semelhante a nós, portugueses. Têm mais de 40 anos de existência, fizeram muitos campeões e têm uma estrutura montada. A figura mítica que é o diretor Eusebio Unzué foi importante. Tinha uma relação com ele e sempre quis correr pela Movistar. Assinar por três anos dá-me estabilidade para conquistar objetivos.
O Nelson Oliveira foi importante no desfecho?
—Troquei impressões com o Nelson. Ele foi falando com o Eusebio. Como amigo, ajudou-me bastante, facilitou muito.
Já esteve no estágio com a equipa. Que ilações tirou? —Receberam-memuitobem, fizemos um treino normal e demos umas corridas também. Não deu para conhecer os cantos à casa ainda, mas tive uma impressão muito boa.
O que procura no projeto?
—Oportunidades. Vamos ter um líder claro nas Grandes Voltas: o Enric Mas. Vou estar lá para lhe dar o apoio que necessitar, mas, estando com ele nos momentos de decisão, vai haver uma seleção natural e posso posicionar-me bem na geral. Nunca se pode esquecer que a Movistar ganha por ter dois homens o mais alto possível na geral. Dizer que vou ganhar corridas é difícil, mas vou tentar melhorar os resultados de 2022. Gosto de acompanhar líderes, mas nos próximos três anos quero lutar também por etapas e objetivos.
Foi 18.º no Tour de 2021. Pode fazer top-10?
—Cheguei a essa prova depois de uma queda no Giro. Não estava tão bem fisicamente e podia ter feito mais. Nesta primeirafasevoufocar-menuma corrida de uma semana e procurar estar nos dez melhores.
Sem nunca desrespeitar o Enric Mas, e se a equipa mo permitir, posso lutar por um top10 na Volta a França.
Venceu a camisola da montanha no Giro. Tem em mente lutar no Tour e na Vuelta por esse prémio?
—Estou focado em etapas e na geral. Gostava de me confirmar como trepador. Ficavame bem ter vitórias nas três Grandes Voltas e, neste momento,preferiatambémfazer um top-10 num Tour do que ganhar a montanha. Pelo que fiz em 2022, sou capaz de ganhar corridas por etapas, nem que seja 2.1 ou 2HC [abaixo de World Tour]. Claro que quero discutir corridas de World Tour, seja provas de uma semana ou nas Ardenas. Faltame algum palmarés, é pouco para o que tenho feito.
Aos 28 anos crê ser possível ser um voltista de alto nível?
—Chego a esta estrutura sabendo que não consegui ser tão profissional como desejava. Perdi por aí muitas oportu
“Sem nunca desrespeitar o Enric Mas, e se a equipa permitir, posso fazer top-10 no Tour”
“Nunca tive alguém que acreditasse em mim para uma Grande Volta”
nidades. Se tiver sorte, ainda vou a tempo para melhorar todos os aspetos. Tive lesões desde os sub-23 e algumas pessoas não me deixaram discutir uma grande corrida; depois a covid-19 prejudicou-me a afirmação. Nunca tive alguém que acreditasse em mim para uma Grande Volta. Tive medo de sonhar alto, não incuti essa ambição. Algumas pessoas começaram a trabalhar comigo e mostraram-me que podia mudar o ‘chip’ e sonhar com uma Grande Volta. Hoje, os miúdos fazem mais testes do que fazíamos. A minha geração apanhou o Rui Costa, o Nibali, o Valverde. Tive calma, acreditei que as minhas oportunidades iam aparecer, que o trabalho não tinha de ser acelerado. E isso afetou-me, nunca consegui retirar o melhor de mim. Cheguei a qualquer corrida, em 2022, para tentar ganhar. Fui muito regular. Tenho feito mais altitude e vou cada vez melhor nas subidas de 10 e 15 km. Estou mais confortável nessas montanhas e mostrei sempre que podia andar bem em Grandes Voltas.