O novo ciclo para o primeiro aconchegar de egos
1 Era previsível nascer um novo sistema na Seleção com Martínez. A estrutura de “defesa a 3” não tem, porém, como qualquer sistema, vida própria. Não é mais ofensiva ou defensiva do que qualquer outro, tudo depende dos princípios e intérpretes (sobretudo nas faixas, os lateral-alas, e o meio-campo “a dois” ser mais de saída ou duplo-pivô). Neste onze nacional (e tendo em conta que são mesmo três centrais e não três defesas), a primeira coisa que me salta à vista é que, com este 3x4x3, tiramos um avançado ou um jogador mais ofensivo-criativo à equipa. Jogadores da tipologia de Otávio, João Mário ou até Gonçalo Ramos, jogando só com um nº9 como Ronaldo, terão mais dificuldade em jogar. Não vale a pena engordar o valor da seleção do Liechtenstein, com jogadores da II divisão suíça ou austríaca que está na “idade da pedra” futebolística e só conseguiu ter posse de bola sustentada quando ela estava mais tempo nas mãos do seu guardaredes.
2 Este jogo de estreia de Martínez podia, em tese, dar taticamente para tudo sem servir verdadeiramente * para nada em termos de futuro sistema de referência (no máximo, pode ser visto como uma boa alternativa que antes não tínhamos).
Félix na esquerda, Bernardo na direita (ele que tem-se rotinado como chefe de jogo do City no centro), ficando Bruno Fernandes como nº8 livre para ser nº10 a subir na dupla de médios em que Palhinha fica como árvore de referência posicional à frente dos três centrais. Tudo num 3x4x3 de ataque continuado. A posse multiplicava-se em muitos passes mas sem a velocidade certa para os fazer. Algo natural em face da falta de rotinas em jogar neste sistema. Por isso, o volume ofensivo não acabava com tantos remates como devia mas com mais centros vindos dos laterais que faziam todo o corredor a subir (e estacionavam no ataque). Marcou um solitário golo na primeira parte, num remate de ressalto de fora da área e o guarda-redes a soltar penas das luvas quando tentou agarrar a bola.
3 Bastou subir um pouco mais esse ritmo e o início da segunda parte fez desmoronar o castelo de cartas adversário. Cancelo fez o que queria pelo flanco direito e, num desses lances, ganhou o penálti que deu a oportunidade para o grito de golo de Ronaldo. A seguir, um livre na linha da área e o mundo português podia retomar o seu sossego. A formalidade da vitória foi cumprida num encontro em que jogar com três centrais foi um contrassenso perante a alternativa de podermos ter jogado com mais avançados, jogadores de golo ou outro ponta-delança, Gonçalo Ramos, e até um dos laterais ser um extremo (Rafael Leão entrou perto do fim). Estas fases de apuramento, com esta diferença de valor entre equipas, são uma mentira competitiva cada vez mais mal contada. Entre as possíveis substituições podia ter estado jogar sem guarda-redes.