O Jogo

O novo ciclo para o primeiro aconchegar de egos

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Era previsível nascer um novo sistema na Seleção com Martínez. A estrutura de “defesa a 3” não tem, porém, como qualquer sistema, vida própria. Não é mais ofensiva ou defensiva do que qualquer outro, tudo depende dos princípios e intérprete­s (sobretudo nas faixas, os lateral-alas, e o meio-campo “a dois” ser mais de saída ou duplo-pivô). Neste onze nacional (e tendo em conta que são mesmo três centrais e não três defesas), a primeira coisa que me salta à vista é que, com este 3x4x3, tiramos um avançado ou um jogador mais ofensivo-criativo à equipa. Jogadores da tipologia de Otávio, João Mário ou até Gonçalo Ramos, jogando só com um nº9 como Ronaldo, terão mais dificuldad­e em jogar. Não vale a pena engordar o valor da seleção do Liechtenst­ein, com jogadores da II divisão suíça ou austríaca que está na “idade da pedra” futebolíst­ica e só conseguiu ter posse de bola sustentada quando ela estava mais tempo nas mãos do seu guardarede­s.

2 Este jogo de estreia de Martínez podia, em tese, dar taticament­e para tudo sem servir verdadeira­mente * para nada em termos de futuro sistema de referência (no máximo, pode ser visto como uma boa alternativ­a que antes não tínhamos).

Félix na esquerda, Bernardo na direita (ele que tem-se rotinado como chefe de jogo do City no centro), ficando Bruno Fernandes como nº8 livre para ser nº10 a subir na dupla de médios em que Palhinha fica como árvore de referência posicional à frente dos três centrais. Tudo num 3x4x3 de ataque continuado. A posse multiplica­va-se em muitos passes mas sem a velocidade certa para os fazer. Algo natural em face da falta de rotinas em jogar neste sistema. Por isso, o volume ofensivo não acabava com tantos remates como devia mas com mais centros vindos dos laterais que faziam todo o corredor a subir (e estacionav­am no ataque). Marcou um solitário golo na primeira parte, num remate de ressalto de fora da área e o guarda-redes a soltar penas das luvas quando tentou agarrar a bola.

3 Bastou subir um pouco mais esse ritmo e o início da segunda parte fez desmoronar o castelo de cartas adversário. Cancelo fez o que queria pelo flanco direito e, num desses lances, ganhou o penálti que deu a oportunida­de para o grito de golo de Ronaldo. A seguir, um livre na linha da área e o mundo português podia retomar o seu sossego. A formalidad­e da vitória foi cumprida num encontro em que jogar com três centrais foi um contrassen­so perante a alternativ­a de podermos ter jogado com mais avançados, jogadores de golo ou outro ponta-delança, Gonçalo Ramos, e até um dos laterais ser um extremo (Rafael Leão entrou perto do fim). Estas fases de apuramento, com esta diferença de valor entre equipas, são uma mentira competitiv­a cada vez mais mal contada. Entre as possíveis substituiç­ões podia ter estado jogar sem guarda-redes.

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Ronaldo marcou por duas vezes, de penálti e num livre direto

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