Desarmou minas, fez a paz e cultivou revolução
Tulipa visto à lupa por quem o levou para os iniciados do FC Porto: Leopoldo Amorim. O que mudou do médio ex-Avintes, de 15 anos, para o técnico de 50 anos
A carreira improvável de Tulipa, precoce quando se estreou na Liga com 36 anos e na forma como chegou pouco depois ao Jamor. E o sucesso em Vizela, contra previsões, silenciando a contestação.
Manuel Tulipa enfrentou a maior contestação de adeptos, superior talvez a pedidos de chicotada no final de jogos, num contexto de chegada ao clube, sofrendo com a animosidade da revolta generalizada contra a Administração pela saída repentina de Álvaro Pacheco, que gozava de índices de popularidade poucofrequentesnumclube, mas assentes em duas subidas e numa proximidade inquestionável com o sentimento vizelense.
Para Tulipa, que vinha treinando os sub-23, foi um regresso atípico à Liga, marcado por ondas de choque fortes, inconformismo ruidoso, que até teve impacto nos primeiros treinos que dirigiu. Mas o certo é que conseguiu apagar do caminho a resistência e a desconfiança, impondo um 3-0 ao Vitória de Guimarães, alimentandomesmoesteconfronto com declarações polémica sobre a rivalidade entre os clubes e as questões políticas associadas. Agora que passou uma volta ao leme dos minhotos, Tulipa está a conhecer o período mais complicado, experimentando três derrotas seguidas e um marcador desnivelado em Guimarães. Mas os resultados antes obtidos, a classificação segura e um padrão de jogo mais elaborado servem, agora, na perfeição para o blindar do descontentamento. O atual 11.º lugar pode, agora, saber a pouco, mas no fundo corresponde a três jornadas do fim ao que poderá ser a melhor classificação do Vizela na I Liga, havendo curtos pontos a separar o Vizela do sétimo lugar, menos do que aqueles que dão conforto quanto à dificuldade da equitreinador
LEOPOLDO, 74 ANOS, JOGOU NO FC PORTO DE 1968 A 1975. SEGUIRAM-SE VARZIM, V. GUIMARÃES E MACEDO DE CAVALEIROS
pa ficar abaixo de um 12.º lugar, também ele suficiente para ser histórico no clube. Tulipa tem, assim, tudo ao dispor para melhorar o 14.º lugar da época passada e ficar acima do 13.º em que herdou a equipa, não esquecendo que ainda transmitiu ilusões de intromissão na luta europeia, que se eclipsaram com as últimas três derrotas.
Este regresso de Tulipa à ribalta, que passara há muito pelo Trofense, em 2008/09, saldo de 26 jogos com obtenção de cinco vitórias, também melhorado agora com sete vitórias em 18 jogos, é acompanhado por Leopoldo Amorim, antigo defesa do FC Porto que trouxe reconhecimento a um jovem atleta, colocando-o na pista de uma carreira na formação dos azuis e brancos.
“Esperava que se tivesse consolidado num grande, mas fez uma boa carreira e foi campeão do mundo sub-20. Era um miúdo pacato, calado e bem comportado. Em campo era igual, muito correto. Surpreendeu-me um pouco ter enveredado pela carreira de mas ainda bem que o fez, pois está a provar a sua qualidade. Convém não esquecer que levou o Chaves ao Jamor”,recordaLeopoldo,aludindo à proeza de Tulipa em 2009/10, assumindo o leme dos transmontanos na II Divisão a tempo de discutir a final da Taça com o FC Porto.
Cachimbo da paz com um jogo mais atrativo Sobre o sucesso do antigo médio-ofensivo de FC Porto, Boavista, Belenenses, Salgueiros e Salamanca, como homem do leme do Vizela... os elogios multiplicam-se. “Quebrou a resistência natural após a saída de Álvaro Pacheco, autor de bomtrabalhoefiguracarismática que tinha laços de afinidade grandes com a massa associativa. O Tulipa, nesse contexto,superouasexpectativas e venceu desafios internos. Vejo um Vizela mais forte, que passou de um futebol de garra para uma imagem mais atrativa. Sem perder a competitividade, num registo muito agradável para o espectador. Discute uma posição na parte alta da tabela, não se podia pedir mais!”, resume.
“Era calado e pacato, surpreendeu-me a carreira de treinador mas ainda bem que a fez, está a provar qualidade”
“Quebrou a resistência após a saída do Álvaro, venceu desafios internos com jogo agradável para o espectador”
Leopoldo Amorim Técnico de Tulipa no FCPorto