As provas do Benfica do nordeste ao Algarve
1 Será a posição mais incómoda para uma grande equipa mas foi até aqui que o campeonato, nas curvas mais apertadas de cada jogo, nos trouxe: ficar na expectativa do que acontece a outra equipa. É nessa situação que, no futebol de sofá, está o FC Porto em relação ao Benfica a três jogos do fim. Noutras épocas já foi ao contrário. A cada análise que ouço, engorda-se o tamanho do Portimonense, uma equipa que viveu o campeonato na chamada zona da tranquilidade a vender e trocar de jogadores ao ponto de Paulo Sérgio ter agora um armário cheio de defesas-centrais enquanto desapareceram médios com outro “cheirinho” de jogo criativo.
É, de facto, das equipas mas imprevisíveis que anda, atravessando literalmente o país, do Algarve a Trás-os-Montes (o local, extremo oposto, onde o Benfica perdeu três pontos que reabriram a porta do campeonato) sem nunca sabermos a que nível exibicional ou em que sistema pode aparecer. Já vimos de tudo, com os mesmos jogadores ou diferentes.
2 É, por isso, um jogo que pode ter um alçapão qualquer a meio do relvado. Este é, porém, um onze benfiquista com os cinco sentidos muito mais apurados para os cinco (sim, com as bolas paradas) momentos do jogo. Aprendeu mental e taticamente com os erros. Resgatou o foco competitivo que deixara cair (sensação de dez pontos e campeonato ganho) e meteu por princípio um extremo (acordou Neres) e um baixinho tombado do berço para o centro do meio-campo (lançou João Neves).
O nosso campeonato não é, historicamente, muito sensível a grandes imprevistos. Já, claro, aconteceram reviravoltas incríveis (mais com confrontos diretos a provocarem-nas) mas as diferenças entre os clássicos grandes e o resto das equipas nunca permitiu tão perto do fim (nove jogos) nada assim: perder dez pontos de avanço. Uma vitória num clássico pode, porém, ter efeitos, ambição e/ ou ilusão de acariciar o impossível. Para isso o FC Porto teve de aparecer, o pisar de Uribe, Pepe e Taremi, de forma autoritária porque era obrigatório ganhar nesse campo tão grande e difícil, a Luz.
3 Conceição soltou o grito no final mas o Benfica ainda tinha margem para levantar-se sem risco de deitar tudo abaixo. Cada jogo transformou-se num teste de atitude (para os jogadores) e de taticismo (para o treinador). Schmidt teve de pensar na equipa, mexer nela, jogadores, dinâmicas e estratégias, como já não pensava ir ter necessidade após uma época em que ela quase andara sozinha, piloto automático ganhador, após a montagem do seu desenho e plano (onzebase) inicial.
Diria que estes últimos jogos são mais importantes para ver o Schmidt-treinador do que todos os anteriores. Saltar essa obrigatoriedade num dérbi fora que nunca jogou (Alvalade, na penúltima jornada) depende de não cair no alçapão do “relvado mesa de bilhar” de Portimão.