Conceição é ele e as suas circunstâncias
O treinador do FC Porto tem mau feitio. O próprio já o assumiu. Ora, o mau feitio não é uma virtude e não lhe fica bem, mas nem sempre vale o mesmo para quem o critica.
Agora mesmo parece que foi há uma eternidade, mas não passaram sequer dois meses desde aquele instante, raro e breve como a passagem de um comenta pelos céus, em que Sérgio Conceição mereceu, não só uma trégua, mas até o reconhecimento generalizado da crítica. Na altura, constou-se que o treinador do FC Porto estava em rotura com Pinto da Costa e ameaçava bater com a porta, abandonando o clube à sua sorte quando ainda estava envolvido em duas frentes. Sintomaticamente, não houve uma única alma caridosa, das muitas que se ofendem semanalmente com o seu mau feitio, que se preocupasse com o que semelhante atitude, naquela altura da temporada, diria sobre o caráter do treinador portista. Sucede que, por fatalidade, não só Conceição não saiu, como ainda ganhou todos os jogos que disputou depois desse episódio, incluindo o clássico que abalou as certezas absolutas que existiam sobre o desfecho da corrida ao título. Podia pensar-se que semelhante demonstração de competência não passasse despercebida à crítica, mas, tão depressa como tinham aparecido, os elogios esfumaram-se. Provavelmente porque se o mau feitio de Sérgio Conceição não serve para provocar um valente terramoto no FC Porto, então é um defeito indesculpável, anulando todas as outras qualidades. A questão não é, obviamente, saber se Sérgio Conceição tem ou não tem mau feitio: tem e não lhe fica bem. Nem quando é provocado, nem quando provoca. Nem agora, nem há dois meses. Com esse defeito e algumas virtudes, Conceição foi sempre o mesmo. O que dizem dele é que mudou com as circunstâncias.