Guardiola City: a última metamorfose
1Repete-se a pergunta sempre que insere na equipa um jogador de tipologia diferente: Guardiola mudou o seu modelo de jogo? Sim, se considerarmos que lhe acrescentou outras “nuances”, adaptou-as às características macro da ideologia (e outros jogadores), enriquecendo-o com conceitos complementarmente úteis. Esta resposta seria, porém, nestes termos, sempre afirmativa já em épocas anteriores. Essa “nuance” é que pode ter mais visibilidade porque esse jogador (Haaland) é disruptivo do tipo vigente mas no caso do “jogo jogado posicional” é mais relevante para o modelo a troca (já da época passada) de Sterling por Grealish. Mudar modelo de jogo significaria mudar fundamentos essenciais deste e isso nunca aconteceu. A exibição em cima do potente Real europeu acentuou a necessidade de descodificar como jogou (joga) este City.
2
Mantendo a base da linha de 4 no posicionamento inicial, faz a saída de bola numa construção em 3x2, resultante do juntar dos laterais, Walker e Akanji, ao lado do central Rúben Dias (que nesse momento do jogo fazem linha de 3 em construção aberta/estendida a toda largura do terreno) e subida do outro central, Stones, para o lado (ficando de perfil) do pivô, Rodri, ou em apoios, subindo com a equipa em posse, ao lado, como pivô direito de saída, junto com Gundogan, pivô esquerdo de jogo profundo no corredor interior, ao qual então também se junta Rodri, viajando junto com a equipa nesse momento, como referência base da circulação por trás.
A largura é dada por Grealish, na esquerda, temporizando e assumindo “um-para-um com terceiro homem” e, na direita, Bernardo Silva, este mais a fletir para dentro, combinando ou buscando o elemento vagabundo ofensivo: De Bruyne, que joga deambulando fora-dentro ou caindo em função do local onde a bola (jogada ofensiva) entra. Tudo com referências de jogo posicional articuladas que criam sucessivas linhas de passe (progressivas, apoiadas, atrasadas ou de rutura).
3Fixo, na frente, em busca do seu momento, o pontade-lança Haaland, para pedir bola na profundidade ou a receber na área. Num retrato macro, sem contemplar as subdinâmicas que o fazem mudar (mover-se) estrutura-se em posse num 3x4x3 (3x2x2x2x1). A defender, após a pressão inicial, recua e faz duas linhas de 4 em 4x4x2, com Stones de regresso à dupla de centrais.
O ponto onde, nesta movimentação e princípios de jogo que a determinam, noto maior metamorfose, é na reação à perda com três jogadores/médios de características intensas, não a pressionar mas a fazer contenção em zonas altas. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente. A atacar, a inovação está na primeira fase de construção, com o tal “3x2” de saída com Stones a tornar-se médio. Uma evolução de “tática individual” dum jogador visto essencialmente como central de marcação e com limitações técnicas que aparece agora, respeitando essas
4
limitações, a funcionar na saída em posse e no passe em apoios.
É ilusório que um nº9 como Haaland tenha mudado qualquer dinâmica/princípio de jogo. Dá, naturalmente outra agilidade finalizadora (um subprincípio) mas o aproveitamento/uso do ataque à profundidade é o mesmo.
Mudança maior deu-se, nesse campo da movimentação/organização ofensiva, com Grealish em relação ao que era Sterling na mesma asa esquerda em épocas passadas (já feito na anterior, aperfeiçoado nesta).
Onde antes um procurava acelerar e fazer contra-movimentos de recuar, girar e buscar na frente, agora surge Grealish a temporizar, encarar e passar, respeitando jogo de triângulos em apoios e desmarcações com passes feitos nos chamados espaços indefensáveis (aqueles entre lateral e central adversário). É a zona por onde Grealish se mete a jogar por dentro do bloco defensivo adversário (independentemente deste estar baixo ou médio, a 4 ou a 5).
A estruturação, modelar do modelo, duma forma de jogar, fomenta o domínio da inteligência sobre as “outras inteligências” (satélites ou ao seu serviço) que fazem a base da filosofia.
O modelo de jogo do Manchester City mudou esta época?