Um deus a torcer por Mehdi Taremi
O máximo goleador estrangeiro da história do FC Porto, Mário Jardel, torce para ser ultrapassado por Taremi. Será difícil, mas uma ajuda caída do céu vem sempre a calhar.
Aimortalidade é uma característica dos deuses, se acreditarmos que existem. Para preencher esta condição, é indispensável uma boa camada de fé. Descendo das questões metafísicas à relva firme, encontramos exemplos de homens e mulheres que conquistaram esse estatuto celestial, protagonistas de feitos divinais. O futebol tem dois tipos de deuses. Os primeiros são muitas vezes evocados para explicar defesas miraculosas e resultados estrambólicos – pensando bem, constituem uma alternativa mais elegante, eventualmente mais verosímil, do que algumas teorias da conspiração; ou outros são os meus preferidos, os deuses de carne e osso, talentos da relva à cabeça, donos da fé e dos humores dos adeptos. Não são assim tantos. Jardel é um deles.
Nenhum estrangeiro marcou tantas vezes como Jardel com a camisola do FC Porto. O brasileiro esguio tinha uma relação amorosa com as balizas. Toca a bola e as redes aspiravamna com trajetórias irrepetíveis saídas daquela cabeça que o guindou ao Olimpo do futebol. Os últimos anos da carreira foram penosos. No campo e, em simultâneo, na vida. Porque tem estatuto divino escrito em quatro linhas, resistiu, com aquele característico peito erguido, à erosão do tempo. Continua a ser um ídolo, um dono da história, um campeão da frontalidade, sem hesitações, tanto a sublinhar os galões, como no desprendimento: “Que Taremi consiga bater o meu recorde”. Será muito difícil, mas está bom de ver que os deuses estão a torcer pelo iraniano.