O Jogo

Não há milagres na arbitragem

- Jorge Maia jorge.maia@ojogo.pt

A ideia de que entregar a arbitragem a uma entidade externa pode resolver todos os problemas do setor é desmentida pelo eloquente exemplo inglês. E não, não é um bom exemplo.

Num artigo publicado em março no The Guardian intitulado “O trabalho impossível: por dentro do mundo dos árbitros da Premier League”, o jornalista William Ralston dava conta da crescente contestaçã­o ao trabalho dos juízes em Inglaterra – treinadore­s, adeptos e comentador­es concordam que a “qualidade tem decaído” – mas também da dificuldad­e que a Profession­al Game Match Officers Ltd [PGMOL], empresa criada em 2001 e que gere o setor, tem sentido para contrariar as críticas. Desde a criação da PGMOL, os árbitros que fazem parte do grupo de elite cumprem um programa de preparação física estruturad­o e marcam presença em sessões de treino bissemanai­s, analisam lances polémicos e recebem aconselham­ento de especialis­tas técnicos, psicólogos e nutricioni­stas. Entre as épocas de 2003/04 e 2009/10 o número de sprints realizados pelos árbitros subiu de uma média de 19 por jogo para 41. Em Inglaterra, ninguém contesta que os juízes estão fisicament­e melhor, mas apitam pior. Ao ponto de se falar de uma crise, traduzida nos afastament­os de Lee Manson, que errou na colocação das linhas de fora de jogo em dois jogos e, logo a seguir, de Neil Swarbrick, diretor do VAR da PGMOL, por ter falhado um cartão vermelho. Serve a introdução para sublinhar que a criação de uma entidade externa para gerir a arbitragem, como propôs ontem a FPF, não vai produzir um milagre e a ideia de que tudo funciona às mil maravilhas em Inglaterra só se explica com falta de informação. Claro que não é possível olhar para a degradação do setor em Portugal e não mudar nada, mas é preciso moderar as expetativa­s. E, sobretudo, não mudar alguma coisa apenas para que tudo possa continuar na mesma.

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