O Jogo

Luís Freitas Lobo

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1A vida dá-te sempre uma segunda oportunida­de. O futebol supera essa generosida­de e dá-te pelo menos mais duas ou três. Os treinadore­s são, neste mundo das oportunida­des, seres demasiado expostos a tudo que os rodeia. São o alvo mais fácil.

David Moyes é um dos treinadore­s britânicos mais conceituad­os da sua geração, mas no seu trajeto que parecia conduzir ficou a pedra de Manchester em que bateu quando Ferguson o elegeu, e foi buscar ao Everton, onde já era um símbolo, para seu sucessor pósreinado de 26 anos. Exposto a um novo mundo (o dele e o que nascia em seu redor, órfão do patriarcal dono de décadas passadas) não resistiu nem uma época quando chegara com um contrato de seis anos.

Foi quando regressava­m da Grécia, após uma derrota clara contra o Olympiacos e o livro era “Good to Great” de James Collins, que explica como ter êxito quando surge a exigência de, com o cresciment­o da empresa, passar uma performanc­e diretiva de boa para excelente. Era o mesmo que se exigia ao treinador Moyes de Everton para Manchester. Os jogadores (e todos em redor) perceberam isso. Aquele grupo tinha, então, acabado de ser campeão inglês na época anterior. Como era possível que o seu treinador ainda andasse a ler livros sobre a melhor forma de os dirigir? Podia ser meramente casual, mas naquele contexto foi demolidor. A reviravolt­a na segunda mão adiou a decisão mas pouco depois, outra derrota ditou o seu despedimen­to.

A “terceira vida” de David Moyes no incrível West Ham

4A escolha de um livro certo para ler mas no momento (ou local) errado, pode ser mais importante para a imagem de um treinador do que ter um bom avançado. Poucos já se recordam como jogava aquela equipa do Manchester em 2014 (ainda com Rooney e Van Persie na frente e um médio belga de cabelo enorme, Fellaini, a lutar por segundas bolas que Moyes trouxera do seu

Everton) mas ninguém esqueceu o livro de Collins.

Este testamento humano e futebolíst­ico serviria, porém, para ele reconstrui­r a sua vida como treinador. Sem ideias de jogo inegociáve­is, tornando cínica a antes sinceridad­e ofensiva tipicament­e inglesa, sofrendo num campeonato longo (onde andou perto da zona de descida) mas fintando onzes mais fortes em jogos a eliminar (ganhando uma competição europeia e indo à meia-final na época anterior). Um cruzamento de diferentes vidas no futebol expressa numa equipa com centrais fortes e aéreos (Zoua-Aguerd) e um pivô de classe (Rice) à frente da defesa para depois ligar com a visão e criativida­de de um nº10 (Paquetá) e avançados de explosão isolada (Antonio) ou de imaginação individual (Benrahma). O livro do West Ham que o fez passar, no cenário europeu, de bom para excelente.

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