O Jogo

Pedido de casamento sem resposta

- Álvaro Magalhães O autor optou por escrever na ortografia antiga

Acontinuid­ade de Sérgio Conceição é o assunto do momento. Os jornalista­s erguem a pergunta no ar, a toda a hora, mas tanto ele como Pinto da Costa têm usado a arte do drible linguístic­o, falando sem dizer nada. Ambos remetem os curiosos para o contrato em vigor, tentando reduzir a questão a um não-assunto, mas isso é impossível, pois esse é o grande assunto da nação portista; e não só, pois também interessa aos rivais, embora pelas razões opostas. Aparenteme­nte, Sérgio Conceição, para continuar, exige um reforço qualitativ­o da equipa. Percebe-se que está cansado de fazer milagres, ou seja, de caçar com o gato da mística, da entrega e da astúcia táctica. Acontece que tal pedido não pode ser satisfeito, pois não há dinheiro. O mais certo é continuar a baixar a qualidade geral, com as saídas de Uribe e ainda de mais um ou dois dos jogadores principais, que terão de ser substituíd­os, obrigatori­amente, por jogadores de qualidade inferior. Fernando Gomes já disse, alto e bom som, que é imperioso vender jogadores até 30 de Junho, o que não terá sido muito inteligent­e. Quem quiser comprar, já sabe que pode especular com essa necessidad­e aflitiva. Também não foi muito inteligent­e dizer que «o FC Porto vai querer responder em termos de sucesso desportivo ao que tem sido o sucesso financei

ro», quando está em funções o treinador com mais títulos do clube (dez em seis épocas). E qual sucesso financeiro, se ainda paira por aí o fantasma do fairplay financeiro? Na verdade, a frase escreve-se ao contrário: «o FC Porto vai querer responder em termos de sucesso financeiro ao que tem sido o sucesso desportivo.» Voltando ao romance presidente-treinador: Pinto

da Costa foi longe e fez várias declaraçõe­s amorosas: «Eu presidente e ele treinador» ou «vamos continuar juntos e a ganhar». Mas não se pode dizer que esteja a ser correspond­ido. Do lado de Sérgio Conceição, nada, só aquele ar de zangado com toda a gente (não é só com os administra­dores Caldeira e Gomes). Na entrega da Taça ao Museu do clube, enquanto Pinto da Costa fazia aquele pungente pedido de renovação dos votos matrimonia­is («Vamos partir para o futuro hoje»), o treinador, ao seu lado, manteve-se indiferent­e ao pedido, com um rosto inexpressi­vo, impenetráv­el. Nem um sorriso, um esgar, um gesto de anuência. Nada, só uma cara de pau, onde era impossível fazer qualquer leitura. O que, a certa altura, se tornou constrange­dor para Pinto da Costa; e também frustrante para quem estava a assistir à cena e ficou sem saber se o treinador aceitava o pedido. E agora? O tal futuro feliz e vitorioso não começou naquele dia, como queria Pinto da Costa; e como queriam os adeptos, que vêem em Conceição um santo milagreiro, um salvador. Mas nada está perdido, embora os sinais não sejam animadores. Afinal, os tubarões europeus, de que fala a imprensa, ainda não apareceram a Conceição, só peixes de porte médio, como aquele onde já está, o que não justifica uma mudança. E há ainda que considerar o seu amor ao clube. Ou seja, ainda pode haver reviravolt­a, quer dizer, romance. Rezai, portistas, rezai.

Nada está perdido, embora os sinais não sejam animadores. Afinal, os tubarões europeus ainda não apareceram a Conceição, só peixes de porte médio...

Aos domingos - Este espaço é ocupado, alternadam­ente, por Carlos Tê e Álvaro Magalhães

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Pinto da Costa não poupa nos elogios a Sérgio Conceição
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Visto do Sofá

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