Pedido de casamento sem resposta
Acontinuidade de Sérgio Conceição é o assunto do momento. Os jornalistas erguem a pergunta no ar, a toda a hora, mas tanto ele como Pinto da Costa têm usado a arte do drible linguístico, falando sem dizer nada. Ambos remetem os curiosos para o contrato em vigor, tentando reduzir a questão a um não-assunto, mas isso é impossível, pois esse é o grande assunto da nação portista; e não só, pois também interessa aos rivais, embora pelas razões opostas. Aparentemente, Sérgio Conceição, para continuar, exige um reforço qualitativo da equipa. Percebe-se que está cansado de fazer milagres, ou seja, de caçar com o gato da mística, da entrega e da astúcia táctica. Acontece que tal pedido não pode ser satisfeito, pois não há dinheiro. O mais certo é continuar a baixar a qualidade geral, com as saídas de Uribe e ainda de mais um ou dois dos jogadores principais, que terão de ser substituídos, obrigatoriamente, por jogadores de qualidade inferior. Fernando Gomes já disse, alto e bom som, que é imperioso vender jogadores até 30 de Junho, o que não terá sido muito inteligente. Quem quiser comprar, já sabe que pode especular com essa necessidade aflitiva. Também não foi muito inteligente dizer que «o FC Porto vai querer responder em termos de sucesso desportivo ao que tem sido o sucesso financei
ro», quando está em funções o treinador com mais títulos do clube (dez em seis épocas). E qual sucesso financeiro, se ainda paira por aí o fantasma do fairplay financeiro? Na verdade, a frase escreve-se ao contrário: «o FC Porto vai querer responder em termos de sucesso financeiro ao que tem sido o sucesso desportivo.» Voltando ao romance presidente-treinador: Pinto
da Costa foi longe e fez várias declarações amorosas: «Eu presidente e ele treinador» ou «vamos continuar juntos e a ganhar». Mas não se pode dizer que esteja a ser correspondido. Do lado de Sérgio Conceição, nada, só aquele ar de zangado com toda a gente (não é só com os administradores Caldeira e Gomes). Na entrega da Taça ao Museu do clube, enquanto Pinto da Costa fazia aquele pungente pedido de renovação dos votos matrimoniais («Vamos partir para o futuro hoje»), o treinador, ao seu lado, manteve-se indiferente ao pedido, com um rosto inexpressivo, impenetrável. Nem um sorriso, um esgar, um gesto de anuência. Nada, só uma cara de pau, onde era impossível fazer qualquer leitura. O que, a certa altura, se tornou constrangedor para Pinto da Costa; e também frustrante para quem estava a assistir à cena e ficou sem saber se o treinador aceitava o pedido. E agora? O tal futuro feliz e vitorioso não começou naquele dia, como queria Pinto da Costa; e como queriam os adeptos, que vêem em Conceição um santo milagreiro, um salvador. Mas nada está perdido, embora os sinais não sejam animadores. Afinal, os tubarões europeus, de que fala a imprensa, ainda não apareceram a Conceição, só peixes de porte médio, como aquele onde já está, o que não justifica uma mudança. E há ainda que considerar o seu amor ao clube. Ou seja, ainda pode haver reviravolta, quer dizer, romance. Rezai, portistas, rezai.
Nada está perdido, embora os sinais não sejam animadores. Afinal, os tubarões europeus ainda não apareceram a Conceição, só peixes de porte médio...
Aos domingos - Este espaço é ocupado, alternadamente, por Carlos Tê e Álvaro Magalhães