O Jogo

Gosto muito de voltar a ver-te por aqui

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Deve sempre voltar-se a um local onde se foi feliz. Não acreditem na frase feita que aconselha o contrário. O que não se pode esperar é, nesse regresso, encontrar as coisa iguais ao que eram antes. Isso, nem nós. Acho que no futebol pode funcionar da mesma forma e como a frase/ conselho se aplica a um irresistív­el regresso algum tempo depois, penso nisso vendo Di María voltar ao Benfica. É um regresso emocional. Teria outros destinos com muito mais dinheiro para rumar aos 35 anos. Volta para onde, há 13 anos, chegara como “pibe”. Rui Costa, que então o recebera dentro do campo como o último nº10 à moda antiga, recebe-o agora como presidente. O Di María jogador também está diferente. Não é só a natural questão da idade que retira argumentos físicos, é a forma de ver e jogar o jogo.

2No passado não muito distante, dizia-se que os sulamerica­nos (brasileiro e argentinos) eram os donos da bola e os europeus eram os donos do campo devido à maior disciplina e qualidade tática. Já não é tanto assim. As coisas * tendem a mudar. Mais do que nos confrontos entre equipas sul-americanas, isso nota-se na tipologia dos jogadores que chegam à Europa e já revelam um entendimen­to do jogo muito mais evoluído que outrora. Refiro-me ao posicionam­ento sem bola, ocupação dos espaços quando não a tem e busca dos melhores locais para a receber em vez de esperar, se fosse ele o craque, que existisse sempre na equipa o chamado jogadorcar­teiro que a entregasse mesmo aos seus pés como acontecia nos gramados de onde vinha. Di María atravessou esses dois mundos. Antes era um puro jogador de “mudança de velocidade”, quase extremo também de velhos tempos.

Agora, mesmo quando joga desde a faixa, é mais um leitor de diferentes jogadas, a procurar mais o meio do que o um-para-um com o lateral, a aparecer mais no passe do que na corrida. Tem, porém, hoje uma superior leitura de cair nos espaços vazios/mortos e, a partir daí, mudar o jogo pelo que pensou mais do que antes era só pelo que executava. Do rebelde que saía do jogo pela janela, ao dono responsáve­l que guarda as suas chaves.

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Dizia há semanas Tostão, craque de outras eras e hoje analista, que a criativida­de é algo que atualmente tem que viver entre a diversão e seriedade. Ou seja, no futebol, o gosto pela bola e a perceção onde se está no campo têm de caminhar juntos no jogo. Di María terá percebido isso para evoluir. Não é fácil essa tomada de consciênci­a acontecer com um extremo. Em geral, acontece a quem anda mais pelas zonas centrais. Os treinadore­s têm a possibilid­ade de ver isso de fora e conduzir o jogador a essa “descoberta guiada”. É um erro dizer que a tática o aprisiona. A boa tática, pelo contrário, completa-o!

 ?? ?? Rui Costa recebera Di María no Benfica dentro de campo e agora fá-lo como presidente
Rui Costa recebera Di María no Benfica dentro de campo e agora fá-lo como presidente

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