A jornada histórica da família Frazão
Miguel teve de bater o irmão Filipe, que nos quartos de final foi um dos mais duros dos 11 adversários rumo a uma prata nunca imaginada
Foi sem pré-aviso que a esgrima portuguesa apareceu a brilhar numa prova de alto nível. Na espada, e entre 96 atletas, Miguel Frazão foi segundo, Filipe Frazão o sexto e Max Rod o oitavo.
Foram mais de dez horas de competição na Tauron Arena de Cracóvia, com início às 8h00 locais e final já pelas 18h30, e um total de 11 adversários. Miguel Frazão nunca tinha enfrentado uma aventura assim. Na realidade, na esgrima portuguesa não haverá muitas histórias destas. A única medalha olímpica já tem quase um século e as presenças nos Jogos estavam a transformar-se numa miragem. Ontem, tudo pode ter mudado. O jovem de 20 anos, do Atlântico de Esgrima, clube de Cascais, foi ficando imparável, com o irmão mais velho, Filipe (22 anos), a imitá-lo, e o mais cotado Max Rod também. Subitamente, Portugal tinha três atletas entre os oito finalistas da espada e um deles só iria parar na final.
“A sensação é indescritível, não estava à espera disto. Estou mesmo muito feliz, é o meu primeiro pódio internacional”, declarou Miguel Frazão, que passou a fase de grupos com três vitórias e três derrotas, e depois só perdeu na final, com o neerlandês Tristan Tulen (10-15), tendo superado
cinco eliminatórias para lá chegar. Pelo meio, uma terá parado o coração do pai, Nuno Frazão, que liderava a equipa e era o treinador: os quartos de final tiveram o confronto Miguel-Filipe.
“Sempre foi difícil jogar contra o meu irmão. Só tinha acontecido em contexto nacional e aqui foi duro. Estávamos ambos a lutar pela primeira medalha, é duro deixar um irmão para trás. Jogámos os dois para ganhar, não estávamos a facilitar. Parte da medalha é dele”, contou Miguel, que bateu Filipe Frazão (15-14) após várias reviravoltas e uma recuperação difícil. Na pista ao lado, e ao mesmo
tempo, Max Rod perdia com o ucraniano Volodymyr Stankevych (8-15). Ambos os confrontos valiam, no mínimo, a medalha do terceiro lugar, o que tornava a jornada ainda mais inacreditável. Portugal estava transformado no país mais forte da prova de espada.
Miguel, único a passar às “meias”, ainda bateria o ucraniano em novo duelo equilibrado (15-14), para na final (10-15) admitir que Tulen “jogou muito bem”. “Foi um dia difícil, tive de gerir as emoções. Fiz mudanças táticas e técnicas”, contou, com um desejo. O de “atrair mais jovens portugueses para a esgrima”.
“A sensação é indescritível. Não estava à espera disto. É o meu primeiro pódio internacional”
“Sempre foi difícil jogar contra o meu irmão. E ambos a lutar pela primeira medalha...” Miguel Frazão Prata na prova de espada