Túnel, ringue e a porta aberta
Villas-Boas com os seus métodos criativos pôs o plantel em chamas antes da Supertaça contra o Benfica
A época de 2010/11 foi uma das melhores da história do FC Porto e da carreira de Varela, que recorda o apelo à emoção do treinador, a partir de um sentimento de revolta que vinha da temporada anterior.
Como é a história do ●●● ringue de André VillasBoas?
—Essa marcou [risos]. Tínhamos um plantel com jogadores de caráter muito forte, os treinos eram muito intensos e, por vezes, havia aquelas picardias no treino e até chegávamos a vias de facto, mas fazia parte e depois estava tudo bem. O André teve de intervir. Quando íamos a entrar no campo, ele tinha preparado um ringue e disse ‘quem quiser lutar, que vá ali para dentro, mas no treino não pode haver nada, acabou’. E a partir daí as brigas acabaram. Em termos psicológicos, foi muito importante para a equipa.
Fale-nos da assumida revolta que o clube sentia nessa época, depois da polémica do túnel da Luz.
—O caso do túnel revoltounos muito pelo facto de termos dois jogadores importantes castigados [Hulk e Sapunaru] e sem poderem dar o seu contributo à equipa, acabando nós por também não conseguirmos o principal objetivo. Criou muita revolta. No ano seguinte, o Villas-Boas, muito bem, soube pegar no que já tinha acontecido e, com essa revolta toda, deu uma motivação extra. Entrou completamente na cabeça dos jogadores, foi capaz não só de dar essa motivação aos jogadores que jogavam habitualmente, como também aos que não jogavam e eram importantesparamanterosníveis de treino altos. Geriu de uma forma quase perfeita um plantel com 20 e tal jogadores todos a pensarem de maneira diferente e a querer jogar.
E a época começa com uma vitória importante na Supertaça contra o Benfica...
—Foi super decisivo. Tínhamos feito uma pré-época difícil, as coisas não estavam a correr da melhor forma, faltava uma vitória para dar o clique. Quando chegámos a esse jogo, a vontade e a revolta eram imensas. O André foi decisivo como nos fez olhar para a equipa adversária com o sentimento de que tínhamos de sair dali com a Taça. No balneário, porta aberta e nós ali a gritar forte para pôr o adversário em sentido. No aquecimento, olhava para eles e sentia que estavam em bicos de pés e o jogo ganho para eles.Tudo isso mexeu connosco. Com essa vaidade, tínhamos de entrar com tudo.
Foi a melhor época da carreira?
—Uma das melhores, sim. Consegui bons números e ajudar a equipa noutros processos. As pessoas veem os golos e as assistências, mas depois há coisas que outros jogadores têm de fazer e muitas das pessoas não percebem, porque só estão focadas na bola, o que é normal.