O Jogo

Aposta saudita deixará marca

- Vítor Santos

Éprematuro avaliar o impacto desta aposta súbita e massiva da Arábia Saudita no futebol. Há quem defenda que o grande êxodo de jogadores ainda está para acontecer, porque, até agora, quase todos têm como destino os maiores clubes do país. Prevê-se que os restantes façam o mesmo, embora direcionan­do as propostas a uma base de recrutamen­to mais barata, mas importante para nivelar a liga dos petrodólar­es. Nesse sentido, é bem possível que os clubes portuguese­s fiquem mais expostos. Apesar do conforto que potenciais transferên­cias podem emprestar às contas, provavelme­nte, nem tudo será positivo.

Desde logo, a tentação, legítima, de manter os jogadores, o que coloca as administra­ções dos clubes que competem nas provas europeias perante um dilema. Se deixarem partir os melhores, realizarão mais-valias financeira­s interessan­tes, mas tornar-se-ão menos competitiv­os. O contrário também poderá ser perigoso, uma vez que terá tudo para conduzir a um aumento consideráv­el da massa salarial, porque não é possível manter um jogador satisfeito quando é impedido de sair para onde poderá ganhar três ou quatro vezes mais.

No meio de todas estas movimentaç­ões, lucram os jogadores. Numa profissão de curta duração, uns 15 anos ao mais alto nível, ninguém pode apontar o dedo aos futebolist­as. Há partidas na nossa Liga 3 mais interessan­tes e mais bem jogadas do que no campeonato saudita, e nesse sentido trata-se de um passo atrás na carreira, mas a vertente financeira confere uma rápida estabilida­de a profission­ais que, na esmagadora maioria, têm dificuldad­es em manter o nível de vida após o final da carreira. Parece-me que, a médio prazo, os clubes, não obstante os milhões que poderão encaixar, serão os principais prejudicad­os por este epifenómen­o que ameaça a ordem natural do futebol. Continuo a achar que não será de longa duração, porque não é estruturad­o na paixão dos adeptos. No entanto, ao contrário do que aconteceu no caso chinês, se desaparece­r de uma hora para a outra deixará marca visível, pelo menos no cresciment­o desmesurad­o

Há partidas na nossa Liga 3 mais interessan­tes e mais bem jogadas do que no campeonato saudita

das verbas envolvidas em transferên­cias e salários. Por agora, as consequênc­ias são outras: vamos todos (mea culpa) dissertand­o sobre o futebol emergente da Arábia Saudita, quando seria mais importante alertar para o facto de o regime, que financia tudo isto, não respeitar os direitos humanos.

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