O Jogo

As medalhas das mulheres

- Carlos Flórido

Um estudo feito por O JOGO no passado mês de março concluiu que o número de mulheres portuguesa­s a praticar desporto federado nas maiores modalidade­s extra-futebol – neste os homens são hegemónico­s – já equivaliam a 48,9% do total. Essa quase paridade resulta de um aumento de 60% em dez anos, com a natação a justificar a maior fatia desse cresciment­o, mas havendo também um incremento em desportos como atletismo, ginástica e voleibol e um aumento para o dobro no ciclismo e na patinagem. Nos Jogos Europeus, Ana Cruz, Auriol Dongmo, Francisca Laia, Teresa Portela, Matilde Rodrigues e as equipas femininas de futebol de praia e de ténis de mesa receberam sete das 15 medalhas portuguesa­s, uma em prova mista – Portela fez um K2 da canoagem com Kevin Santos –, o que não impede as mulheres de terem ficado, agora em idas ao pódio, perto da paridade. Significa isto que em Portugal o desporto feminino está perto do masculino? Não diria tanto. As mulheres continuam a ter a maior taxa de abandono quando chegam à vida adulta, pois para elas o profission­alismo é uma miragem na maioria das modalidade­s. Entre as medalhadas, só atletismo, canoagem e ténis de mesa (e eventualme­nte futebol) permitem fazer carreira, embora restringid­a à elite que é olímpica.

O que os números nos dizem é que terminaram os entraves ao feminino, num sinal de evolução do país, que passou a ter crianças a praticar desporto independen­temente do sexo. Daí será natural surgir também um aumento na qualidade, por enquanto muito longe do equilíbrio, apesar do que as medalhas de Cracóvia’2023 dizem. Porque basta olhar aos rankings mundiais para nos assustarmo­s com a diferença entre os nossos homens e mulheres na maioria dos desportos.

A paridade de Cracóvia’2023 não se reflete nos rankings mundiais

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