DEVAGAR SE VAI AO LONGE
DOMÍNIO Empate 1-1 com o Genk mostrou que um leão mais controlado com a bola é mais perigoso. Estreou-se a linha de quatro defesas
Na primeira vez de porta ●●● aberta em 2023/24 uma novidade no reinado de Amorim. O teste da linha de quatro defesas, pedido tantas vezes como esquema alternativo, veio a público no empate com o Genk, 1-1, igualdade com golos obtidos na primeira parte. A principal ilação a levar no caderno de volta ao hotel é que o leão vive mais cómodo com a bola no pé e a pautar ritmos. Uma versão que se viu na segunda parte quando Daniel Bragança voltou a ser avistado pelos adeptos no relvado, um ano após a lesão no joelho direito, mas principalmente porque o treinador deu o recado à equipa de que o leão tem de ser mandão.
Antes, um passe fantástico de Morita a isolar Chermiti (10’) permitiu ao Sporting marcar à primeira oportunidade. Mérito do avançado sub-19 a mostrar que também sabe explorar a profundidade e assistir, em bandeja de ouro, para Trincão. A tática de dois avançados surpreenderam o Genk, nitidamente. Mas a pressa não foi boa amiga e de um pontapé de baliza Matheus Reis achou que Franco Israel tinha dotes de Usain Bolt para chegar a um passe disparatado. Um golo oferecido a Fadera aos 25’ e que minou a confiança para os leões terem a bola: Coates andou aos papéis, desconfortável
Trincão marcou o golo dos leões e teve o triunfo nos pés mesmo ao cair do pano, após uma assistência de Jovane. Seria a cereja no topo do bolo do jogador que mais desequilibrou na noite de ontem
na linha de quatro defesas, Matheus Reis somou perdas de bola na esquerda e Edwards pouco ou nada pressionou na direita, abrindo o assalto ao meio-campo de Morita e Pedro Gonçalves preso de movimentos com bola e sem tração quando a perdia.
Ao intervalo não mudou a tática, apenas a consciência. Tanto que o Sporting merecia a vitória durante esses 30 minutos: combinações coletivas a arranjarem oportunidades claras na área e Trincão o expoente de criação e de desperdício: aos 56’, teve o golo no pé, mas preferiu adornar com a canhota, aos 59’ forçou uma defesa exuberante de Vandevoordt e também Afonso Moreira mostrou dotes de desequilibrador, ficando perto de um golo monumental.
A lesão de Eduardo Quaresma (80’ ), trancado o jogo todo e a estranhar a posição de lateral, abriu a porta ao regresso do 3x4x3 e a perturbação voltou a desequilibrar o barco: Coates voltou às correrias
para tapar buracos e Israel agradeceu à intervenção divina porque o remate de Paintsil, aos 87’, foi à trave. O Genk está longe de ter génios da lâmpada em termos individuais, mas podia ter vencido o jogo. O inverso verificouse no final quando Trincão, na cara do golo, atirou a rasar o ferro, depois de uma recuperação subida e abnegada de Jovane Cabral. Sem abdicar do contra-ataque e do erro alheio, o Sporting deverá afinar a lógica de que devagar se vai ao longe. Com qualquer esquema tático.