“ALAN AINDA VAI EVOLUIR”
ANÁLISE Leandro Somoza treinou Varela no Boca Juniors e moldou-o para o salto europeu. Foi desafiado a jogar para a frente e a decidir mais depressa
Adjunto aproveitou a experiência como futebolista na mesma posição para aconselhar o portista. Portugal é uma porta favorável para os argentinos e o estilo dos dragões torna tudo mais fácil. Alan Varela foi rápido a fixar-se como titular no FC Porto, sem grande surpresa para quem o conhecia, mas, ao mesmo tempo, existe a convicção de que ainda está longe do auge. A ideia é transmitida a O JOGO por Leandro Somoza, adjunto de Miguel Angel Russo no Boca Juniors quando o médio despontou na Argentina. Mais do que testemunhar, contribuiu para o crescimento de Alan, que resultou no salto para a Europa. “A liga portuguesa é um bom passo para os argentinos. O estilo de jogo do FC Porto ajuda muito, porque joga sempre para ganhar e isso facilita a adaptação. Estásnumaequipagrandeque te acompanha”, analisa o treinador, resoluto na projeção: “Está a crescer e ainda não chegou a metade do que pode dar. Vai continuar a evoluir”.
Até atingir este ponto, foi necessário um trabalho minucioso e facilitado pela experiência de Somoza, de 42 anos, que fez carreira na mesma posição. “[Varela] Era rápido e resistente. Quando começou a treinar connosco, pedíamos que deixasse de jogar para trás ou para os lados. ‘Os [médios] que rompem linhas com passes verticais é que contam’, dizíamos-lhe eu e o Miguel. Logo começou a aplicar esses conselhos, porque tem boa técnica”,explicaSomoza.Tendo compreendido para onde tinha de ir a bola, Varela foi então desafiado a decidir rápido. “Pedíamos sempre que, quando recuperasse a bola, que a jogasse rapidamente, fosse curto, largo ou para a frente. Tem características para ter a bola nos pés, mas não podes retê-la muito tempo no futebol atual. Na Europa, se te agarras à bola, o avançado que atacou o espaço vazio não o voltará a fazer e vai reclamar que faças o passe”, completa o antigo adjunto do Boca, para quem “outra qualidade importante do Alan é o jogo aéreo”. “No início, custava-lhe saltar, mas agora, no FC Porto, vejo que evoluiu nesse sentido”, nota.
De resto, era fácil moldar Varela. Estreante no Boca aos 19 anos, desde logo mostrou “personalidade e profissionalismo” e contou com a ajuda de companheiros com quem tinha partilhado o percurso nas camadas jovens. “Estreou-se muito bem, não sentia pressão. Começou a jogar cada vez melhor quando tinha a oportunidade. Isso foi potenciando o jogador e, em pouco tempo, transformouse numa peça indiscutível na equipa. Por isso, não me surpreende que se tenha adaptado tão depressa no FC Porto e conquistado um lugar entre os titulares”, recorda o antigo treinador, para quem era fácil dar conselhos mais concretos a Varela, “porque conhecia perfeitamente a posição”. Às vezes, um detalhe fazia toda a diferença. “Alan estava habituado a jogar sobre a linha da bola e insistia para que ele desse um passo atrás para ter mais visão de jogo e direcionar os apoios para receber, já sabendo por onde iria sair com a bola. E, contra o Barcelona, na Champions, vi que ele quis sair a jogar, mas recuou e re
Somoza destaca a personalidade de Alan Varela, que fintou a pressão na estreia pelo Boca, aos 19 anos, e rapidamente se fixou na equipa, sempre pronto a aplicar os conselhos
cebeu a bola sozinho. Estas coisas deixam-te feliz, porque vês que o jogador interiorizou o que lhe pediam e evoluiu”, exemplifica Leandro Somoza, num raio-x a um médio completo. “Hoje em dia todos querem formar médios box-to-box, mas depois não sabem meter-se entre os centrais para defender. O Alan domina essa tarefa, ou ser uma espécie de líbero à frente dos centrais. Além disso, acrescenta uma saída de bola lúcida desde trás, pela visão de jogo e o bom tratamento que dá à bola”, finaliza.