“Sou um treinador da casa e uso o modelo do ABC”
ANDEBOL Filipe Magalhães é uma revelação no ABC, que tirou da crise e colocou na Europa, sendo o segundo mais jovem entre os técnicos
Fez a última temporada como jogador aos 25 anos, no Xico Andebol, mas já era treinador, e sempre no ABC. Passou por infantis, iniciados, juvenis e juniores. Depois assumiu os seniores, com surpresa.
RUI GUIMARÃES
Filipe Magalhães, bracarense de 37 anos, está há duas épocas e meia à frente do ABC, e com grande sucesso. Tendo um plantel baseado na formação da casa, é quarto no Andebol 1, a mesma posição em que terminou na época passada, levando o clube à Liga Europeia. Percorreu todos os escalões de formação como treinador, reconhece que sonhava treinar os seniores, mas não esperava que fosse tão cedo.
Quando surgiu o convite
para os seniores do ABC, imaginava que poderia acontecer?
—Sempre tive o sonho de treinar o ABC. Ou seja, tinha como objetivo um dia ser treinador principal do ABC, mas nunca imaginei que a minha primeira experiência como treinador sénior fosse logo aqui, até porque a história do clube mostra que teve pouquíssimos treinadores e todos foram referências; estamos a falar de professor Cunha, Donner, Jorge Rito, Carlos Resende, tudo nomes grandes. E, de repente, umtreinadorsemexperiência a nível sénior assumir os comandos do clube, à partida não seria expectável.
Mas aconteceu...
—É verdade. Quando o Carlos Matos [presidente do ABC] me liga a dizer que precisava falar comigo com urgência, isso passou-me pela cabeça, mas no sentido de integrar uma equipa técnica.
Mas não foi. Como reagiu?
—Quando me disse que era para assumir o comando da equipa fiquei muito surpreso, mas, sem a certeza do que viria pela frente, tinha a confiança de que podia fazer um bom trabalho. A responsabilidade de assumir o ABC na posição em que estava – penúltimo, com os mesmos pontos do último – foi um risco da Direção, em primeira análise, mas também meu. Felizmente correu bem. Mas sim, foi
“Quando [Carlos Matos] me disse que era para assumir o comando, fiquei muito surpreso”
“Modelo de jogo não mudou muito, continuamos com o nosso 5x1 defensivo e sempre à procura de organização em termos ofensivos” Filipe Magalhães Treinador do ABC
“Tinha como objetivo ser treinador do ABC, mas nunca imaginei que a minha primeira experiência como treinador sénior fosse logo aqui”
“O professor Rito é uma das minhas grandes referências, se não for mesmo a maior referência”
“Fomos às competições europeias na primeira época em que isso foi objetivo”
uma grande surpresa e, ao mesmo tempo, um orgulho enorme.
Assumiu a equipa e os resultados apareceram logo. O que mudou?
—Fizemos o primeiro jogo a 4 de dezembro de 2021. A equipa tinha uma vitória, um empate e oito derrotas e tivemos cinco vitórias seguidas. Acredito que possa ter mudado alguma coisa na cabeça dos jogadores. Quando se está num ciclo negativo há momentos muito difíceis e julgo que, mesmo se não tivesse havido esta mudança, com o professor Rito a equipa ia dar a volta e virar aquele ciclo.
É um elogio a Jorge Rito?
—Não escondo de ninguém, e já lhe disse, que o professor Rito é uma das minhas grandes referências, se não for mesmo a maior referência.
Tive a sorte de poder ver de perto o trabalho que faz, já tinha sido treinado pelo Aleksander Donner quando era júnior, também assisti aos treinos do Carlos Resende, e identifico-me perfeitamente com o modelo que sempre se utilizou aqui. Sou um atleta da casa, um treinador da casa e a nível de modelo de jogo não se mudou muito, continuamos com o nosso 5x1 defensivo e sempre à procura de organização em termos ofensivos.
Não mudou nada ao nível do treino?
— Sim, somos todos treinadores diferentes. Direi que em termos de estrutura de treino sou mais parecido com o Carlos Resende do que com o tipo de treinos do professor Jorge Rito, mas em termos de conteúdo sou mais professor Rito do que Carlos Resende.