A vontade de ganhar e a de enganar
A coragem de assumir objetivos em função dos meios disponíveis nem sempre está presente no discurso dos protagonistas do futebol, como se o sucesso dependesse disso.
Quando o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, e um dos jogadores mais importantes da Seleção Nacional, Otávio, em entrevistas a O JOGO, apontam na mesma direção, há motivos para acreditar que 2024 trará grandes momentos para os adeptos que apreciam o futebol para lá da realidade dos clubes. A ideia coletiva de que é possível alcançar conquistas superlativas, como o Euro’2024, é essencial, além de, com o grupo de jogadores que Portugal possui, mau seria pensar o contrário. Observando o passado, no entanto, nem sempre aconteceu.
Ousar sonhar, em futebol, é muitas vezes encarado como um problema. A própria comunicação oficial das diversas entidades envolvidas trata de baixar as expectativas, por múltiplas razões, com receio da resposta dos adeptos em caso de insucesso. Pareceme que esta estratégia, chamem-lhe “mind games” ou outra coisa qualquer, só contribui para descredibilizar o discurso de quem tem a responsabilidade de dar a cara.
É por isso que prefiro a frontalidade dos protagonistas que têm a coragem e o arrojo de assumirem as responsabilidades aos silêncios estratégicos ou a discursos deslocados da realidade, que ficam no limite da falta de respeito, face ao conhecimento e informação que os adeptos possuem. A Seleção Nacional tem matéria-prima e está inserida numa organização de grande nível, não fica atrás de ninguém. O resto, é para mostrar em campo, onde fatores aleatórios como a sorte também contam. Mas os adeptos lidam melhor com isso do que com palavras que escondem evidências.